domingo, 30 de dezembro de 2012

POESIA: QUANDO A FELICIDADE BATE A PORTA- VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES





QUANDO A FELICIDADE BATE A PORTA


                                          VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES



aporta verbena em flor à porta
de um coração
supõe-se delírios nas fibras de cujos gestos
atreveu-se beijos
em rosas- rosas garantiu-se as cores
 a palavra amor caiu como luva no jardim

daí, as lágrimas deslizaram vida

e explicou sabiá que
quando a felicidade bate, aporta


domingo, 23 de dezembro de 2012

CRÔNICA: QUE MARAVILHA, O MUNDO NÃO ACABOU! - VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES

Foto: Rhaí jogando sinuca (Brasil)




QUE MARAVILHA, O MUNDO NÃO ACABOU!



                                       Vanda Lúcia da Costa Salles




         -Disseram que o mundo ia acabar. Como?!  E eu que nem aprendi a jogar sinuca.Como pode acabar assim, sem mais nem menos. Sem que eu leia Augusto dos Anjos, Sem que a aposentadoria saia. Sem que eu possa visitar Paris?   Impossível. - ela reclamava e dizia que queria aprender a jogar sinuca.
         Vinte e quatro horas passadas, cansados, ela e os amigos constataram que tudo permanecia igual, daí ela exclamou, gargalhando para o mundo, com o taco na mão:
         - Que maravilha, o mundo não acabou!

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

POESIA: TERNURA ANTIGA EM A PALAVRA DO MENINO E AS ABOBRINHAS - VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES



Foto: Capa do livro Infanto-Juvenil: A Palavra do Menino e as Abobrinhas, de Vanda Salles, também conhecida como Vanda Lúcia da Costa Salles

Contra capa : A escritora e poeta autografando o livro em Rio das Ostras ( RJ)

Ilustração: Raíssa Salles,Cibério Ramon Salles e Vanda Salles





TERNURA ANTIGA EM A PALAVRA DO MENINO E AS ABOBRINHAS

                                     Vanda Lúcia da Costa Salles  (Brasil)



     Era um menino de uma perna só
     que cantava o mundo
      para além do nó



     Assim ele ficava porque
     enquanto cantavam afinadinhos
     Ele desafinava


     A sua ternura antiga o engendrava
     E era um menino lindo
     que se permitia desafinar


    Em seu propósito dizia:
    É possível inventar um sonho?
    Afeto tem sexo?
    Qual é o raio da nossa intolerância?
     Amor é cor?



    O seu amor sabe do meu amor, então,
    podemos florir o mundo...
   
         

sábado, 20 de outubro de 2012

CRÔNICA: DENTRO DE NÓS - VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES

Foto: Maria Amaral Ferreira, por Vanda Salles ( Vanda Lúcia da Costa Salles)





DENTRO DE NÓS



                                  Vanda Lúcia da Costa Salles




      Em momentos que a mente acaricia, sei que vives, com esse ar de Dama antiga e dissimulada porque sabes que a saudade brota gerânios, tulipas e hortelãs. Como  grapete, nomeada era e os netos vinham saber dos causos e namoricos de adolescentes. E ficávamos sorrisos largos, a retirar os cabinhos das pimentas malaguetas ou a formar, peça a peça, a beleza de um fuxico.
      De certo que a dúvida nunca adentrava o afã do peito amante, dançando um samba ou um cateretê. Então, dizias, em tardes de veranico, " a maresia entorna o caldo do pirão de carapeba, moreno, prepara a lenha que o fogo já nos convida". E toda faceira, alisava os lençóis.
      Um, dois, três, quatro, cinco, seis filhos seus e mais três de quebra no angu do tacho, criados com tapioca, violão e rede. " Neném que o diga, Josias nada sabe do clarão da Lua quando a noite brilhava encanto. Vanda, tão bom seria se tivéssemos um tapete voador, não?" Imaginar nem era preciso, sabíamos que do sonho era a vantagem do guia. Seguíamos pegadas.
       Pintora fosse, falou um dia, chuva caindo fininha como agulha perdida na cegueira do olhar, " eu pintava a flor, delicada flor, e enfeitava a casa de Seu João Aleijadinho. O pobre, mal consegue respirar, mas também uma solidão tão torta, que nem cal as paredes aceitam. Coitado, diz caminhar nas horas." Ouvido atento, dentro de nós, a admiração se expandia como pé de samambaia ou cortadeira chorona. Ah!  Senhora de toda a nossa vida e matriz de mim, como sufocar a ausência que deixaste nessa casa com portão verde floresta e uma biblioteca comunitária num desejo todo próprio do projeto firmar?
       Num cavalinho branco que penso ser o unicórnio azul de teus sonhos de menina ( o qual, contastes oras a fio, enovelando as nossas cabeças fantasiadas de colombinas, em uma noite de Carnaval  passado em Balneário de São Pedro D'Aldeia), partistes, como quem parte desejando boa-noite e no dia seguinte viesse convidativa para um banho de mar, nas Dunas ou no Farol.
       Às vezes, ao ler sobre o Egito Antigo ou  O Alienista, de Machado de Assis, creio vê-la ao meu lado, tão dentro de nós, em sorriso de coqueteria, " ainda serás, uma grande, mais grande professora e eu, apenas  a mãe"
       Chamava-se Maria Amaral Ferreira, neta do Capitão Costa, filha de Olívia da Costa Amaral, e amava poesia.
     
     
     


sábado, 6 de outubro de 2012

POESIA: NA SINGULARIDADES DE CURVATURAS - VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES

Foto: Barco na Marina da Glória



NA SINGULARIDADES DE CURVATURAS


                                           Vanda Lúcia da Costa Salles

    I

Se o cérebro produz formas, guarda
a natureza dessa imaginação, fugaz
diferenciação
a maré não joga o caniço nem elabora a memória
que traz
o mistério estético do elevar-se âncora


   II


Os passos não atravessam estradas porque a sombra os alinham
O sol não aquece as margens porque o rio é caudaloso
A  solução não espera o sonho da escolha realizada
A cristalina água reflete a hora de retornar à casa aberta...


III


Nenhum transeunte pensa, o quanto é tarde ao se vê atravessado
A violência tomou conta da tarde, e o trágico na rua
foi um passista silenciar-se

IV


Assoviando no caos do trânsito
uma ambulância corre contra o tempo
Marcas interferem no colorido da imagem
No silêncio das falas, o burburinho das máquinas creditam o humano


V


Uma sunga e uma tanga  atravessam a mesma estrada
Há que se crê no que o olho absorve...

domingo, 30 de setembro de 2012

CRÔNICA: AQUELE OLHAR - ALEXANDER DE SOUZA (BRASIL)






Foto: Iguaba, por Vanda Lúcia da Costa Salles






  AQUELE OLHAR


                            ALEXANDER DE SOUZA (BRASIL)*




      Engraçado como a vida faz nossos valores se distorcerem. Num momento acreditamos em algumas coisas que ela mesma ensinou. No outro, tudo vira de cabeça para baixo e a gente se pega questionando tudo; a conduta de pessoas, a nossa, a própria vida e até mesmo Deus.
     Eu sei que é clichê, mas nunca estamos satisfeitos com nada até a vida nos colocar à prova e é aí que uma parte de nós, absconsa e real, como um bebê esperando para vir ao mundo, se revela. Quem tem o mínimo de coerência, nessas horas, percebe que na maior parte da existência reclama por razões mesquinhas ou por não ter o quê dizer.
     Em algum lugar da minha memória, um fato que tive o desprazer de presenciar exemplifica bem o que eu quero dizer. Foi no início da tarde de um sábado. Eu ia para o trabalho muito P da vida. Calor pra cacete. Minha escala estava errada e o meu chefe não estava nem aí pra isso. Que inveja do pessoal fora do ônibus!  Sentados num bar, tomando cerveja e batendo papo enquanto o otário aqui, pagava seus pecados numa condução lotada e pra jogar logo a pá de cal, no meio de um engarrafamento que faria às provações de Jó parecerem histórias pra boi dormir.
     Fazer o quê, né? Fui resmungando o tempo todo durante um trecho que, hoje penso, não cobria o espaço de meio quilômetro. Mas que se dane!  Naquele momento eu só pensava em reclamar e sentir inveja daquele povo lá fora, porque eu estava dentro de um veículo que parecia me levar direto para o inferno.
     Estranho. Até hoje não sei como os meus reflexos afastaram o pragmatismo mesquinho em meus pensamentos e fixaram minha visão no corpo de um homem jogado ao chão, bem ali, na calçada.
     - Ele caiu! - gritou alguém.
     - Foi atropelado! - responde outra pessoa
     - Ele tá é bêbado. - gritou, em deboche, um grupo de adolescentes no fundo do ônibus.
     Os comentários ao meu redor me deixavam atordoado e o impulso foi o de me levantar, porém eu permaneci observando. Queria ver o rosto do sujeito, que permanecia virado para baixo.
     Quando ele conseguiu virar-se afinal, o que eu vi, ficou gravado em minha mente. O que vi foi ódio. Eu vi impotência. Sua respiração era profunda e retinha em si, toda a vergonha do mundo mesclada à uma frustração que o meu choque não entendera o motivo, até então.
     Nesse momento surgiu diante do infeliz outro homem com duas muletas nas mãos, jogou em cima do sujeito, gritando coisas do tipo: " Vai aprender a andar antes de encher o saco dos outros eu cachaceiro sem pernas".
    Eu vi o homem recolher suas muletas com dificuldade, se levantar. O dono do bar, rindo às suas costas, continuava:
    - Além de perneta e cachaceiro você fede que nem porco!  Vê se aprende a tomar banho, seu otário!"
    O homem desapareceu no meio do povo, mas a cena ficou ali. O calor desaparecera. O engarrafamento não tinha mais importância. Muito menos o emprego. Aquela deformação da vida fez o mundo tomar outra forma.
    Ao meu redor os comentários continuaram durante algum tempo, alguns indignados, outros a favor do dono do bar, porém durante a viagem, cada passageiro voltou ao egoísmo de suas vidas, inclusive eu, que parei de reclamar.Todavia um pensamento, no mínimo sombrio, me envergonha até hoje e eu não consegui evitar: " Ainda bem que eu tenho pernas para ir pro trabalho."


  ( In. CENTELHA MÁGICA )



* ALEXANDER DE SOUZA: poeta, cronista, e como ele mesmo diz, um aprendiz da diferença. É funcionário do Ciep Brizolão 121-Joadélio Codeço, no Marambaia, em São Gonçalo-RJ, Brasil.
     



quinta-feira, 13 de setembro de 2012

POESIA: VITÓRIA - VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES (BRASIL)










Foto:  Niterói- por Vanda Lúcia da Costa Salles






VITÓRIA


Vanda Lúcia da Costa Salles (Brasil)



Apesar de você
a luz no espaço se propaga e expande-se cor e som e
renovada luz
de Vitória efetiva caindo água viva em mim,
em nós,
nos artistas contemporâneos que colaboram e confraternizam
espaços
E quase tudo e todos agem, fazem
com que a Esperança brote e sobreviva
apesar de teus pés e mãos caluniosas, omissas, mas rapináceas
tentar espoliar
a arte
da Arte que atravessa o nosso peito
tão fervorosa e eterniza
nun golpe só,
esse instante... E enleva,
eleva,
com vigor e visgo,
o nosso Sonho cada vez mais longe...



E você,
como é que fica?


Sem figa,
amadurece,
irmão!


A vida é muito mais... Que o teu olho de Hidra!





segunda-feira, 3 de setembro de 2012

POESIA: MAIS DE UM... - VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES (BRASIL)











MAIS DE UM...


                     Vanda Lúcia da Costa Salles (Brasil)

I

não ouse sentar-se ali
Mais de um já o fizeram
e
essa cadeira vazia
não fede e nem cheira,
apenas,
soluça seu pranto
porque sabe
que quaisquer orlas
são indiferentes
ao brilho do Sol
ou ao clarão da Lua


II


essa cadeira vazia... Em que jaz o testamento e a música
A trouxeram, ninguém sabe quando
ou quem,
porém,
em um entardecer de Abril, quando
derramaste todo o azul de sua retina de peixe
e mais de um saíram à noite
após a leitura


III


da poesia, o abraço recíproco continua
o mar é sempre saudade
se mais de um mergulha


IV

a meu ver,
Tudo/Nada nem sempre é susto
Gerânios embalam os sonhos...


V

...Nesse exato momento, a vitória é uma conquista.





(Alcântara-São Gonçalo,03 de setembro de 2012)

terça-feira, 21 de agosto de 2012

DIVERSIDADES E LOUCURAS EM OBRAS DE ARTE II - VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES (BRASIL)

Foto: Pintura de Matisse- Luxo, Calma e Volúpia


                      MATISSE-  A ARTE COMO SAÚDE MENTAL E SOCIAL

                  Sabe-se que aos 21 anos (1890), após sofrer uma cirurgia, o pintor francês Henri Matisse adquire consciência ou "iluminação" de que o seu destino era ser pintor. E com essa certeza, reorienta os seus objetivos de vida.
                  Quando pinta o seu primeiro quadro " Luxo, Calma e Volúpia", o artista ganha a convicção de que Liberdade é abertura da obra e diz " euforia e dilatação" é saúde mental.
                  Assim, sua obra opõe-se às ideologias niilistas que dominaram o Século XX  e descortina-se em luminosidade em louvor a vida.


* (Henri-Émile-Benoît Matisse )nasceu em Le Cateau Cambrésis no dia 31 de dezembro de 1869, e faleceu em 3 de novembro de 1954. Foi criado em Bohain-en-Vermandois, na região francesa de Picardia.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

POESIA: NOS OLHOS DE WOROUD SAWALHA - VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES (BRASIL)






  






NOS OLHOS DE WOROUD SAWALHA



                             Por: Vanda Lúcia da Costa Salles (Brasil)








uma garça voa
corre corre corre corre
e mira o alvo
o sonho estala forte
enquanto
suas asas flamam ao vento
a mesma luz
que ilumina
o espetáculo do dia
ilumina
a todas as mulheres determinadas a ler
o que mais avança
nos olhos de Woroud Sawalha


quarta-feira, 4 de julho de 2012

POESIA: EM UM SOM QUALQUER - VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES


Foto: Fachada do Teatro Municipal no Rio de Janeiro-BRASIL



EM UM SOM QUALQUER


                         VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES



admirado olhar,
este teu escancarado olhar de Cidade Maravilhosa,
quando
em um som qualquer
instala-se a harmonia
e a bailarina descalça suas sapatilhas





domingo, 17 de junho de 2012

POESIA: SUAVE BRISA EM MIM - VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES (BRASIL)

Foto: A escritora Vanda Lúcia da Costa Salles (Vanda Salles)

SUAVE BRISA EM MIM


                  Por : Vanda Lúcia da Costa Salles (Brasil)

I
Aqui,
na encosta desta montanha em que adormeces
descortina-se o panorama sutil
desse verde que emana
suave brisa em mim

II

Creio na vida que nos embala,
no tempo que criamos
(como um fio de luz),
tecido em tua materna entranha
...E eu nem sabia o que era flor!

III

Observávamos o dia quando líamos sobre o Egito Antigo?

IV

E quantas coisas, agora sei, aprendi
de ti,
toda a doçura das coisas
mas também como retirar as farpas entranhadas, aqui e ali

V

Sabe, as águas ainda correm para o mar
e,
escrever um poema,
é elucidar os seixos trazidos pela esperançosa maré


VI

Às vezes, a saliva é tudo o quê temos.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

POESIA: LIBERDADE - VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES

Foto: Crianças no Mundo: Esperança e Paz



LIBERDADE


              VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES


invadiu-me a boca o gosto, marota ela,
 criou-se asas em mim, frutificou-se
alento profundo em meu peito,
de jeito.
puro e simples,
de ser.
Se Liberdade é o seu nome, assim,
tão livre... Eu quero ser.

terça-feira, 1 de maio de 2012

POESIA: COMO EXPLICAR...? - VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES

COMO EXPLICAR...?


             VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES



como explicar... o que me alegra o gosto?
entranhado em minh'alma
está o bâlsamo e a pena... mas também,
a nossa amizade e seus inúmeros detalhes... e o como, não é o que importa.


como explicar... se meu coração te envolve, e se envolve
em abraços emocionados, leito poético
contendo afoito, o ímpeto
das águas


como explicar... o que me divide ao meio?
quando no encontro das bocas, o diálogo e o beijo
foram delícia dos deuses






quarta-feira, 25 de abril de 2012





  ALGO DENTRO DE MIM 


        Por: Vanda Lúcia da Costa Salles
          
I


Disseste:
o que não se dá, se perde
E voaste como a primavera no cio, à espreita

II

que do sonho, o vale
sem sombra de dúvidas ou hastes nebulosas
experimentasse o silêncio

III

e que do ouvido não calasse o gorjeio
desse algo dentro de mim que é nós
ave plena

IV

livro solto em mãos calejadas de leituras
flor aberta, instigando o prazer
do voo

V
Digo a ti:
a alegria de estar é a excelência da vida
assim o levo na palma de minha mão

VI

e para compartilhar essa luz, suave toque
que enebria e perfuma
a quem acaricia


VII

porque algo dentro de mim sabe, e se dá
na escritura do dia, no signo das pedras
e na fluidez desse orvalho

VIII

que cai, agora, na maciez do instante
em que voas, ó alma minha, a beijar-me escandalosamente:
a insensatez e o canto



sexta-feira, 6 de abril de 2012

HOMENAGEM: MARCO DO MUNDO - W.J.SOLHA (BRASIL)





MARCO DO MUNDO


W.J.SOLHA (JOÃO PESSOA-BRASIL)



... "O silêncio na Torre
é absoluto.


Do provisório território máximo do Marco,
entre o reino dos réus e o dos céus,
vê-se o compulsório Cristo- em ouro, pedra,bronze
e nos vitrais - das catedrais,
vê-se o mau ladrão no rio Tibre, que no italiano- fiume Tevere-
permite ao Poeta dizer que o bandido faz ali seu thriller,

enquanto o outro faz a oração, entre lírios e constelações de círios
que se vão,
acesos,
em procissão,
das ruas de Fátima e Lourdes às de Medjugorje e Czestoshowa
(mesmo que chova),
passando por Guadalupe e Caravaggio, Loreto e Aparecida,
até que prospekt passa a ser o nome que dostoievski dá
pra avenida."



( In. SOLHA,W.J. MARCO DO MUNDO, IDEIA, João Pessoa:2012)

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

POESIA: A LUZ DO DIA - VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES (BRASIL)







A LUZ DO DIA


VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES (BRASIL)


era a luz do dia de sua mãe.
o que quero
não espero
faço acontecer
através do dom
que o bom Deus me deu, dizia
o menino que corria
meio ao trânsito
engarrafado
e buzinas loucas
lançando ao ar: bolas,chapéus,boliches,
seus sonhos,
de ser um grande
na novela das dez,
em ponto,
no ponto dessa esquina do metrô,
de bêbado
um carro desgovernado
e retrô
esmagou-lhe o sorriso de moleque,
à luz do dia.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

CONTO: A PERDIZ ENCANTADA- VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES (BRASIL)




Foto: Vanda Lúcia da Costa Salles- Eventos e comércio de objetos de arte (CAFÉ LITERÁRIO E BIBLIOTECA COMUNITÁRIA: MARIA SALLES ( in memoriam)






A PERDIZ ENCANTADA






Distante do mar à 30 quilômetros, à beira do Caíco, em Pérgamo, na mais importante cidade da Músia, vivia Pergamina - a perdiz encantada. A guardiã de todas as letras do verbo encarnado. Mentora do grande livro.
Voava seu voo no exercício do hábito. Bela, entre seus pares. Com sua cor púrpura nas penas entremeadas por um dourado intenso que aos raios solares dispendia um fulgoroso brilho. Eles a seguiam. Os pergoleiros negróides.
Pergamina iniciava um voo rasante quando recebeu em seu peito, de cheio, uma flechada tão violenta que estilhaçou o seu pequenino coração . Sentiu o golpe traiçoeiro como um zumbido. Percebeu-se caindo como um fardo sem destino até golpear a pedra cinzenta e esquecer o seu propósito de vida. E seu último pensar foi nos filhotes dentro da mata esquecidos, à sua espera. A memória de si esvaira – se , lentamente. Os hieróglifos empalideceram-se quando o sangue da infeliz ave gotejando-os, marcou a pele através das penas e a mensagem se pode ler. Um abismo projetou-se.
Da vida, nem sempre compensava o trato, todavia a metamorfose era o que mais refinava o tempo. A guardiã cumpria o seu destino. Outros aprenderiam o que de si não contivera olvidar. De sua pele perfeita um pergaminho surgiria. Quem soubesse o decifrasse. Para a chave, a memória recriar.
Um dos negróides pergoleiros arreganhou os dentes e aproximou-se sorrateiro, mata à dentro.



( IN.: UNIVERSO SECRETO Entre o Abismo e a Montanha.Vanda Lúcia da Costa Salles. Virtualbook, Pará de Minas-MG,2011 )