segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

POESIA: A MÃO E A FACE - VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES (BRASIL)




Foto: Cérebro





A MÃO E A FACE


VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES (BRASIL)



Na origem do gesto,
entre efeitos e causas,
a mão e a face
entreolham-se hospitaleiras


Momentaneamente,
o fundo das coisas
não apavora o silêncio,
nem impossibilita o verbo escrever,
se e se somente
das pedras,
dos lírios,
das redes lançadas ao mar
ou mesmo estocadas nas neuronais
brotarem-se estrelas e fios
e memória
da possibilidade/tesouro interior



Trabalho e linguagem
arrimo do ser em errância
que em sua primeira instância
o gera/a língua
No cérebro em flor.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

HOMENAGEM: VOU VIAJAR PELO TERRITÓRIO - IRINA RATUSHINSKAYA (RÚSSIA)




Foto: Irina Ratushinskaya-libro Pencil Letter


Voy a viajar por el territorio
(a Tabya y Vabnya)
..


Voy a viajar por el territorio --
Con mi séquito de guardias,
Voy a estudiar la mirada del sufrimiento humano,
Voy a ver lo que nadie nunca antes ha visto --
¿Pero seré capaz de describirlo?
¿Lloraré si lo consigo --
al caminar en mi partida sobre el agua?
Cómo nos parecemos ya a nuestros esposos --
Nuestros ojos, la frente, la punta de la boca.
Qué idénticos somos – hasta la última vena de la piel --
A ellos, que se alejaron durante tanto tiempo de nuestras vidas,
A ellos, a quienes escribimos ahora: “No importa,
Tú y yo somos una y la misma persona,
¡Y los otros nunca conseguirán separarnos!”
Y, como forjado en la tierra,
"Para siempre" parece ser la única respuesta --
Dos palabras ancestrales
Que esconden detrás de sí toda la luz.
Aunque me arrastre penosamente con el convoy,
Me acordaré absolutamente de todo --
¡Con el corazón! - ¡Y no lograrán arrancármelo! --
¡Cada respiro que demos --
Cada aliento al margen de la ley!
Y aquello por lo que vivimos --
Para el día de mañana.
.
Zona Pequeña (área del campo de trabajo donde residían las prisioneras de conciencia), 12-11-83.



VOU VIAJAR PELO TERRITÓRIO


IRINA RATUNSHINSKAYA (RÚSSIA)



Vou viajar pelo território -
Com a minha comitiva de guardas,
Vou estudar o aspecto do sofrimento humano
Vou ver o que ninguém nunca viu antes -
Mas serei capaz de descrevê-lo?
"chorarei se o consigo ?-
ao caminhar em meus jogos sobre a água?
Como nos pareceremos aos nossos maridos ?-
Nossos olhos, testa, a ponta da boca.
Que idênticas somos - até a veia última da pele -
Para eles, que ficaram longe durante tanto tempo de nossas vidas,
Para eles, que escrevo agora: "Não importa
Você e eu somos uma mesma pessoa,
E os outros nunca conseguirao nos separar! "
E, como forjado na terra,
"para sempre" parece ser a única resposta -
Duas palavras ancestrais
Que se escondem atrás de si toda a luz.
Apesar de me arrastar penosamente para o comboio,
recordarei absolutamente de tudo -
Com o coração! - E não lograrao arrancá-lo! -
Cada respiro que demos -
Cada respiração à margem da lei!
E isso por que nós vivêramos -
Para o amanhã.
.
(traduçao: Vanda Lúcia da Costa Salles (Brasil)


Pequena área (área do campo onde os prisioneiros de consciência residem), 1983/11/12.




IRINA RATUSHINSKAYA: nasceu em 4 de março de 1954. É uma proeminente poeta russa.

sábado, 15 de janeiro de 2011

POESIA: SE TE AMO, TE AMO... - VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES (BRASIL)




SE TE AMO, TE AMO...


VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES (BRASIL)



Estas palavras pouco confirmam,
porque nem sempre sei falar de amor
Amo-te e se te amo, te amo.


Na boca, a minha língua singra mares & continentes
aporta o que de beleza aflora
E sabedora confirma:
Te amo,e se te amo, te amo!


Nela comporta noites estreladas e dias calorosos,
mas também chuvas frias de janeiro tempestuoso
com agogôs, bandolins, fados, carnavais
e este choro lento
que nem explica a nossa força laborosa.
Mas no silêncio expresso e em piscadela:
Te amo, e se te amo, te amo!


Longe de casa, da terra amada -
deslumbrante carmim -
No amante peito saudade alude:
Te amo, e se te amo, te amo!



Lanço-te a pena e com esta pena escrevo voo
numa amplitude mais que altaneira,
beijo-te nas horas,e
no mesmo tom,
saudade espanto!

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

POESIA: CAMPOS EM FLORES - VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES (BRASIL)




Foto: Tulipas



CAMPOS EM FLORES


VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES (BRASIL)



Abre-se o sonho,a estrada se revela
ampla a consciência se inclina
e alegremente abandona toda a tristeza
que oprimia os instantes,
o dia,
a vida.
Nos campos em flores as tulipas sorriem e lançam
Ave-Marias
e rogam por nós,
com zelos fervorosos.


Em bando os pássaros revoam por sobre as nossas cabeças
Acreditamos que a vida está ancha de luz verdadeira,
porque anjos desceram a Terra
e abençoam as flores nos campos.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

HOMENAGEM: LÍNGUA-MAR - ADRIANO ESPÍNOLA (BRASIL)



Foto: Bandeira do Brasil




Foto: O poeta Adriano Espínola






LÍNGUA-MAR


ADRIANO ESPÍNOLA (BRASIL)


A língua em que navego, marinheiro,
na proa das vogais e consoantes,
é a que me chega em ondas incessantes
à praia deste poema aventureiro.
É a língua portuguesa, a que primeiro
Transpôs o abismo e as dores velejantes,
no mistério das águas mais distantes,
e que agora me banha por inteiro.
Língua de sol, espuma e maresia,
que a nau dos sonhadores - navegantes
atravessa o caminho dos instantes,
cruzando o Bojador de cada dia.
Ó língua-mar, viajando em todos nós.
No teu sal, singra errante a minha voz.


( In Praia Provisória- Prêmio 2007 de Poesia da ABL)








*ADRIANO ESPÍNOLA: nasceu em 1952, é poeta, ensaísta e professor da UFRJ. Autor de Em trânsito - Táxi/Metrô(1996), Fala, favela (1998), Praia provisória (2006), entre outros.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

HOMENAGEM: SOLIDÃO -VERONIKI DALAKOURA( GRÉCIA)*



Foto; Bandeira da Grécia





SOLIDÃO


VERONIKI DALAKOURA (GRÉCIA)




Eu devo tudo a você.
A argila, a precária
estrutura de culpa divina
a sombra de quem moldou
a pirâmide
com um senso
de benevolência.

Antes de eu pudesse dizer "me salve" nasci
de você. Dentro de sua barriga macia
pulsava a substância estranha
criando, deus de superfluidade,
medo
da existência futura
Eu devia.

(Onde há
nenhum vento,
à luz de velas,
cintila
ansiando por mãos
jovem assustada.
Confessei sofrimento
de prostituição cardíaca
assim eu sei porque você
ainda insiste
em estar
perto de mim.)



SOLITUDE

I owe you everything.
Potter’s clay the precarious
structure of divine guilt
the shadow of whomever shaped
the pyramid
with a sense
of goodwill.

Before I could say “save me” I was born
of you. Inside your soft belly
throbbed the odd substance
creating, o god of superfluity,
fear
of the future existence
I owed.

(Where there is
no wind
candlelight
flickers
yearning for the hands’
startled youth.
I confessed suffering
from cardiac prostitution
so I know why you
still insist
on being
close to me.)




VERONIKI DALAKOURA: nasceu em Atenas, Grécia em 1952. Estudou Direito na Universidade de Atenas e Sociologia em Montpellier (França). Publicou livros de poesia: Poesia 67-72 (1972), The Decline of Love (1976), O Sonho (1982), Dias de prazer (1990), Wild Angel Fire (1997), e livros de ficção: O fim do jogo (1998) ea Tabela Hodler (2001). Ele traduziu, entre outros, Flaubert, Sthendal, Rimbaud, Baudelaire, Desnos, e Dali. Seu trabalho tem sido incluído em várias antologias, em Inglês, francês, espanhol, romeno e búlgaro. Trabalha em educação.