sábado, 30 de outubro de 2010

AH, AMOR MEU! - VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES (BRASIL)



Foto: Amor- Caravaggio




AH, AMOR MEU!




Viver não me causa dor
mais que este teu amor
em mim produz
um foco
transdisciplinar
tão arteeducador
a base
do legado em ti
entrada escolhida
no diálogo
em que
a crítica
nem percebe a obra
e eu embevecida morro
do fenômeno novo
de tua luz: um novo mundo/cosmo jorra via



A pauta se inscreve... Lua
corpo libertino cria
uma onda causa tudo em mim
se alucina e preserva o barco
enquanto naúfrago esbanjo o escarro
do período morno
e sangro até
não poder mais de tanto amor e corro
pensando no Arpoador
e a chave
não traduz a porta, e também
não cabe
no reboliço zorra
desse meu orgasmo de te vê
assim tão crua e nua
no clarão da Lua
imensa e linda como a palma de minha mão tão cheia
de sua presença rara


Universalista samba em mim
como coisa inacabada tão semente esponja
impecável sombra
que se desloca
e foca novamente em minha vida
assombra espontânea dessa construção poética
E você chora chora chora essa sensibilidade viva
E eu olhar atento lanço a minha fisga,
e te faço minha na pesquisa explícita
com toda a potência do meu ser...


Ah, amor meu!
" A Pureza é um Mito"
( bem sabia o Oiticica)
Falar-te de amor,
é como entrar em um labirinto
e esquecer o novelo o juízo o apito
mas estender a dobra!



*

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

HOMENAGEM: JULIÃO SOARES SOUZA (GUINÉ-BISSAU)*



Foto: Julião Soares Souza(Guiné-Bissau)

CANTOS DO MEU PAÍS


Canto as mãos que foram escravas
nas galés
corpos acorrentados a chicote
nas Américas


Canto cantos tristes
do meu País
cansado de esperar
a chuva que tarda a chegar


Canto a Pátria moribunda
que abandonou a Luta
calou seus gritos
mas não domou suas esperanças

Canto as horas amargas
de silêncio profundo
cantos que vêm da raiz
de outro mundo
estes grilhões que ainda detêm
a marcha do meu País


( In: Um Novo amanhecer, 1996)

*JULIÃO SOARES SOUZA :é natural de Bula (República da Guiné-Bissau). É Licenciado, Mestre e Doutorado em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, onde é investigador no Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX. Frequenta também o curso de Direito na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra.
...

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

MOMENTO DISCENTE: PRISCILLA THAMYRES- CAMINHADA




Foto: Praia de Rio das Ostras


Um dia sem sol, mas com um mormaço bem quente, foi o dia 25 de outubro de 2010. Entretanto nem por isso o clima do tempo tirou a beleza e o entusiasmo do nosso passeio: aula ao ar livre.
Saímos da escola (Ciep 257) eram umas oito horas da manhã e fomos caminhando até a praia do Centro de Rio das ostras.
Pelo caminho avistamos paisagens diversificadas: árvores, casas, pessoas, animais... Uns ambientes mais modernos e outros mais antigos.
No meio do caminho demos uma parada na Biblioteca, onde também se localiza o Teatro. Tiramos umas fotos, e continuamos nossa trajetória.
Chegamos na praia e caminhamos mais um pouco, agora pela areia, até chegarmos na praça que é um espaço muito lindo e cheio de vida. Ficamos lá um pouco. Tiramos mais fotos e conversamos uns com os outros. Após isso, caminhamos mais um pouco e ficamos em um local bem próximo à um parquinho e a Concha acústica.Passamos um bom tempo lá, tiramos fotos e fotos e nos divertimos bastante. Até fizemos "vaquinha" para comprar uns refrigerantes.
Nossa, como tiramos fotos! Mas tenho certeza que todas ficaram boas, pois com paisagens como essas é imposível alguma foto não ter nenhuma beleza especial.
Esse foi o passeio da Turma 1005/2010, do Ciep 257 de Rio das Ostras, com a professora de Língua Portuguesa/Literatura: Vanda Salles. E este é o meu relatório...

sábado, 23 de outubro de 2010

HOMENAGEM: CHICO BUARQUE (BRASIL)




Valsinha

Composição: Chico Buarque / Vinícius de Morais



Um dia, ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar
Olhou-a de um jeito muito mais quente do que sempre costumava olhar
E não maldisse a vida tanto quanto era seu jeito de sempre falar
E nem deixou-a só num canto, pra seu grande espanto, convidou-a pra rodar
E então ela se fez bonita como há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido decotado cheirando a guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços como há muito tempo não se usava dar
E cheios de ternura e graça, foram para a praça e começaram a se abraçar
E ali dançaram tanta dança que a vizinhança toda despertou
E foi tanta felicidade que toda cidade se iluminou
E foram tantos beijos loucos, tantos gritos roucos como não se ouvia mais
Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu
Em paz

HOMENAGEM: EUSEBIO SANJANE ( MOÇAMBIQUE)*







O NOSSO SONHO, IRMÃOS



O nosso sonho
cresce fértil nas vísceras da terra
e é nosso o suor que o alimenta.



A TEUS OLHOS INFINITOS


Hoje roubei todas as estrelas do céu
e quando pensei colá-las nos teus olhos
faltava-me ainda o universo todo...


Eusébio Sanjane (1988-) faz parte da mais nova geração de escritores moçambicanos. Escreveu o livro "Rosas e Lágrimas" (poesia), prefaciado por Mia Couto.


Ver mais em:

http://mocambicanto.blogspot.com/search/label/Eus%C3%A9bio%20Sanjane

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

MOMENTO DISCENTE: ELOISA DOS SANTOS MOTA (BRASIL)



Foto: Catedral de Brasília



A FUNÇÃO DA ARTE

(tendo por base o texto de Eduardo Galeano : A FUNÇÃO DA RTE/1 )



A função da arte no meu ponto de vista é tudo aquilo que o menino não conhecia. E quando ele viu o inesperado, deu aquela emoção. E ver que tudo aquilo que está ao nosso redor é perfeito, causa impacto.
Podemos sentir uma emoção enorme quando vimos algo que sempre desejamos ver...E não sabíamos que existia.

domingo, 10 de outubro de 2010

MOMENTO DISCENTE: LÍRIOS DO CAMPO- STEFANY CIOLFI



Foto Octavio Ocampo

LÍRIOS DO CAMPO


Lindos lírios do campo
venho lhe entregar
com lágrimas nos olhos
Não sei ainda o que te dizer
Pois quando olho para você
Vejo em que Deus se inspirou

Coisa mais linda,
eu, no alto mar
Num luxuoso navio
com muitas riquezas e esplendores
vivendo loucas aventuras. foi tudo muito
bom.

Mas nada se compara aos amores
da vida e as paixões.
Por isso sei que um forte sentimento
de liberdade há. Por isso digo e afirmo...
Que não sei viver sem você!

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

HOMENAGEM: ALBERTO PUCHEU(BRASIL)*



Foto: Bandeira do Brasil



Foto: Alberto Pucheu

Poema para ser lido na posse do presidente


Ando pela calçada da rua em que moro,
em direção à Cobal, por exemplo,
onde diariamente compro alguma coisa
apenas para descansar um pouco do trabalho
cotidiano que faço em casa, e,
ao passar por uma pessoa, sou para ela
o que ela é para mim: alguém
que sobe ou desce uma rua, nada mais.
Talvez, neste momento, eu seja
também para mim e ela também para ela
o que somos um para o outro: alguém
que se esquece de onde está vindo
e aonde está indo, de seu nome, de seu trabalho,
alguém que sobe ou desce uma rua, nada mais.
Ou algo mais, ou menos, não sei, que vai
comendo o nome, o trabalho, o parentesco,
as demandas que recaem sobre nós,
largando-os pouco a pouco pelas latas de lixo
penduradas nos postes, deixando-os cair
ao meio-fio, por entre as rodas dos carros,
cumprindo o destino comum de todos dejetos.
Andando pelas calçadas, subindo-as
ou descendo-as, indo ou voltando não importa
para onde ou de onde, enquanto andamos,
desta vez não temos um encontro marcado
com nós mesmos. Mais persistentes
ou mais ausentes, mais barulhentas ou silenciosas,
diversas vidas vêm e vão em um só corpo,
aparecendo sempre alguma quando alguma
é requisitada. Mas há momentos em que,
entre a casa e os ofícios da cidade, entre
qualquer compra, por exemplo, na Cobal,
e o uso da compra ao chegar em casa,
antes de qualquer contrato, de qualquer direito,
de qualquer convenção, do livre arbítrio,
do estado civil, antes do tamanho dos ossos,
do formato da orelha, das impressões digitais
dos dedos, das extensões do rosto, da fotografia
em 3X4 ou em 5X7, das fotografias de frente
e de perfil, antes das imagens exclusivas da íris
e das retinas e dos escaneadores 3D,
das câmeras que nos gravam nos bancos
ou pelas ruas, antes dos DNAs guardados
em algum arquivo nacional, antes da beleza
e da feiúra, do código de barras na nuca
– com o qual sonhei ontem – disponibilizando
os corpos a uma máquina que teimasse
em reconhecê-los por um número qualquer
pelo qual jamais nos reconheceríamos,
antes desses e milhares de outros modos
de sermos apreendidos, os ócios vazios
de um corpo abandonado (uma vida nua
ou um posto de pura distração
em que os viventes se fazem esquecidos,
ou quase isto) sobem e descem uma rua,
nada mais. São corpos matáveis, como
ao fim de uma partida de futebol,
como durante um assalto, como na fila
de um hospital, como por bala perdida
ou certeira da polícia e dos traficantes,
como por acidentes, pelas drogas, pela fome...
São corpos gloriosos, como durante
uma partida de futebol, como durante
uma semana de carnaval, como em um show
de rock, em uma mesa de bar com amigos,
em um mergulho diurno ou noturno no mar,
como quando fazem amor ou quando,
mesmo sem o fazerem, se amam
ao longo da vida ou por apenas
alguns instantes. São corpos dúbios,
quando dançam o funk sob a mira
dos AR-15, quando fogem dos tiros
saltando atleticamente por telhados,
caixas d’água, correndo por becos,
quando se explodem na terra ou no ar
contra o concreto de um edifício
ou quando se jogam das alturas
do mesmo edifício. São corpos funcionais,
como nas caixas lotadas dos supermercados,
dentro das britadeiras fritados sobre o asfalto
do sol, dentro da cozinha da minha casa,
ao meu ouvido, na central de telemarketing.
São corpos... São corpos que, em algum momento,
esquecidos, anônimos, sobem e descem uma rua,
nada mais. Subindo ou descendo uma rua,
atestamos então este hiato de desconhecimento
entre o corpo abandonado e as diversas vidas
que o tentam colonizar, entre a vida nua
e as vestimentas vivas que a recobrem,
entre a vida crua e o que dela pode ser cozido,
entre a vida aberta e a vida vivida. Atestamos
a fenda deste hiato, uns emigrantes da distância
neste hiato de que não podemos nos afastar,
uns estrangeiros, uns viajantes, uns forasteiros,
uns gringos, uns bárbaros neste espaço
que se serve das palavras para falar
em uma língua estrangeira, uns índios
neste espaço, nesta picada, nesta clareira,
uns berberes e o vão do deserto esgarçando
os berberes, uns esquimós e o vazio da neve
ampliando os esquimós, uns pescadores
dispersos pela luz, tragados por este espaço
diluído entre a areia e os sóis dos Lençóis,
o espaço em que o explosivo queima
entre a genitália e a cueca do nigeriano
no avião. Atestamos este espaço das palavras
que se servem das palavras para falar.
Apátridas, não temos por pátria a língua portuguesa
nem outra nos seria natural. Nascemos
sem língua, abertos a qualquer jargão
que em nós quisesse se desdobrar, nascemos
sem povo, abertos a qualquer bando
que em nós quisesse se desdobrar,
nascemos sem lei, uns bandidos, uns canhotos,
uns lobisomens, uns burros, uns jumentos,
umas vacas, umas piranhas, uns veados,
umas éguas, umas antas, uns porcos,
umas mulas, umas bestas, umas baleias,
umas cachorras, uns tubarões, uns animais,
uns bichos, umas bichas, umas feras,
uns selvagens, uns fora-da-lei
abandonados a qualquer lei
que nos pudesse governar, abandonados
a qualquer lei que tivéssemos de desregrar.
Sobreviventes, descendemos de uma classe
de épocas perigosas praticamente esquecidas,
exilada da cidade dentro da cidade,
e, mesmo que ser, estar, saudade, cidade,
floresta, rio, mar, sertão, natureza
e outras palavras nos digam intimamente respeito,
navegamos, apátridas, a abertura, o sem,
o não, o nem, o a- que não nos largam.
Por mais que não queiram, trazemos conosco
os espaços vazios a distorcerem as possibilidades
que cotidianamente se oferecem
do que nós somos, do que é a água
do rio, do mar, da cidade, do país,
do mundo, e, por mais que não queiram,
nossa saliva é o suor das palavras não-ditas,
e, por mais que não queiram,
misturamos o separado, trazemos conosco
a cidade e a natureza ferina, a poesia
do dedo que falta na mão do presidente.

ARRANJO PARA ESSES CAMPEÕES DA PALAVRA


Não posso ser poeta, não sei contar histórias... Se eu fosse um toureiro, faria o público acreditar que eu estava a poucos centímetros da morte, mas manteria minha margem de segurança. Foi o que fiz no ringue. Nós, lutadores, compreendemos as mentiras. O que é uma simulação? O que é pensar uma coisa e fazer outra? Os melhores garotos são aqueles que até podem tomar um murro na cara, mas são inteligentes o bastante para não o querer. Quando soa o gongo, somos apenas duas solidões. Não temos medo de apanhar, mas temos medo de perder. Uma derrota no ringue não se compara a nenhuma outra. Eu combatia com qualquer um. Não me interessava quem eram. Era simplesmente indiferente para mim. Eles me batiam, eu não me importava. Quando estou no ringue, luto pela minha vida. A luta pela sobrevivência é a única luta. Por cinco dólares, eles podiam me golpear no queixo com uma marreta. Quem já ficou dois dias sem comer poderá entender. E comer é um vício difícil de largar. Quando se luta, se luta por uma coisa: dinheiro. Acho que o campeão que eu sou hoje é pela dificuldade que eu passei. Nunca fui nocauteado. Já estive inconsciente, mas sempre de pé. Detesto afirmar isso, mas é verdade: quando começa a doer, é quando eu mais gosto deste negócio. Quando vejo sangue, fico como um touro. Sou um animal selvagem, inimigo declarado de toda a raça humana. Uns dizem que sou arrogante, outros, que preciso de uma boa surra, e outros, que falo muito. Mas eu garanto o que digo. Eu não quero nocautear meu adversário... quero golpeá-lo, me afastar e vê-lo ferido. Quero o seu coração. Ele pode fugir, mas não pode se esconder. Tento acertar na ponta do nariz do meu adversário porque tento lhe enfiar o osso no cérebro. Se abrirem minha careca, vão encontrar uma grande luva de boxe. É tudo o que sou. É disso que vivo. Celebridade? Eu? O pessoal lá de onde venho diz que eu sou um vagabundo sortudo que sabe dar umas porradas. Quando você não é mais o campeão, está sozinho. Alguns ficam insanos, outros começam a beber, pois o boxe é muito intenso, e muita gente se perde. Você agüenta até certo ponto, depois quebra. Tenho tudo de que preciso: o médico mora aí em frente, o farmacêutico trabalha na esquina; daqui, posso ver a câmara-ardente, e o cemitério é logo ali embaixo na rua.



* ALBERTO PUCHEU : Nascido em 1966, no Rio de Janeiro, Alberto Pucheu é poeta, tendo publicado Escritos da Indiscernibilidade (Rio de Janeiro: Azougue Editorial, 2003), A Vida É Assim (Rio de Janeiro: Azougue Editorial, 2001), Ecometria do Silêncio (Rio de Janeiro: Ed. 7 Letras, 1999), A Fronteira Desguarnecida (Rio de Janeiro: Ed. 7 Letras, 1997), Escritos da Freqüentação (Rio de Janeiro: Ed. Paignion, 1995) e Na Cidade Aberta (Rio de Janeiro: Ed. UERJ, 1993). Organizou o livro Poesia (e) Filosofia; por poetas-filósofos em atuação no Brasil (Rio de Janeiro: Ed. 7 Letras, 1998). É professor de Teoria Literária da UFRJ e ensaísta.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

HOMENAGEM: EDUARDO LIZALDE (MÉXICO)*



Foto; Bandeira do México




Foto: Eduardo Lizalde (México)

EL TIGRE

Hay un tigre en la casa
que desgarra por dentro al que lo mira.
Y sólo tiene zarpas para el que lo espía,
y sólo puede herir por dentro,
y es enorme:
más largo y más pesado
que otros gatos gordos
y carniceros pestíferos
de su especie,
y pierde la cabeza con facilidad,
huele la sangre aun a través del vidrio,
percibe el miedo desde la cocina
y a pesar de las puertas más robustas.

Suele crecer de noche:
coloca su cabeza de tiranosaurio
en una cama
y el hocico le cuelga
más allá de las colchas.
Su lomo, entonces, se aprieta en el pasillo,
de muro a muro,
y sólo alcanzo el baño a rastras, contra el techo,
como a través de un túnel
de lodo y miel.

No miro nunca la colmena solar,
los renegridos panales del crimen
de sus ojos,
los crisoles de saliva emponzoñada
de sus fauces.

Ni siquiera lo huelo,
para que no me mate.

Pero sé claramente
que hay un inmenso tigre encerrado
en todo esto.



EPITAFIO

Sólo dos cosas quiero, amigos,
una: morir,
y dos: que nadie me recuerde
sino por todo aquello que olvidé





O TIGRE

Há um tigre em casa
que dilacera por dentro aquele que o olha.
E somente tem garras para aquele que o espia,
e somente pode ferir por dentro,
e é enorme:
maior e mais pesado
que outros gatos gordos
e carniceiros pestíferos
de sua espécie,
e perde a cabeça com facilidade,
fareja o sangue mesmo através do vidro,
percebe o medo até da cozinha
e apesar das portas mais robustas.

Costuma crescer de noite:
coloca sua cabeça de tiranossauro
em uma cama
e o focinho fica pendurado
para lá das colchas.
Seu dorso, então, se aperta no corredor
de uma parede à outra,
e somente alcanço o banheiro rastejando, contra o teto,
como que através de um túnel
de lodo e mel.

Não olho nunca a colméia solar,
os negros favos do crime
de seus olhos,
os crisóis da saliva envenenada
de suas presas.

Nem sequer o cheiro,
para que não me mate.

Mas sei claramente
que há um imenso tigre encerrado
em tudo isso.



EPITÁFIO

Somente duas coisas quero, amigos,
uma: morrer,
e duas: que ninguém se lembre de mim
senão por tudo aquilo que esqueci.


Tradução em português: Plinio Junqueira Smith