domingo, 11 de julho de 2010

POESIA: MNEMÓSINE E AS FILHAS* - VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES




Foto: obra de Remédios Varo, Criação das Aves, 1957 (óleo/masonte)



Foto:Obra de Octavio Ocampo



MNEMÓSINE E AS FILHAS





I




Do Monte Parnaso flui a beleza
Em cascatas de ternura, harmonia e sonhos de amor
O dia perfuma-se e desnuda-se faceiro
convidativo ao devaneio... E essa poeta aceita-o
na plenitude do desejo.




A relva, uma brisa suave adormece; os pássaros pousam solenes; a
vida empluma a palavra: ao Nada
Só as inoportunas Puéredes encrespam um grunhido
escondendo as negras e brancas asas charlatãs.




E
Na Fonte Castalia
Mnemósine e suas filhas brincam com arte
E as águas respingam e presenteiam a todos os artistas o dom
De vislumbrar as inusitadas Musas,
De súbito...




Pelos deuses do Olimpo, eu vi!







II





Cantar um hino aos deuses, essa filha Calíope faz
da Épica: a tabuleta e o buril edificar símbolos a humanizar
na dadivosa voz as primícias do doce encanto...
De Zeus.




III



Sobre a Clepsidra debruça-se a Musa Clio... E sorri heróica
com um pergaminho parcialmente aberto constrói o belo
Proclamando na História
o sentido da fama aos toques do clarim
E as Ninfas,
todas, no Jardim das Hespérides deslizam
montanhas e vales e desenhados campos
de amapolas e alecrins recriam Eco à luz
do dia para acariciar o deus Pã... Com afã!




Alseídes, Melíades, Autoníades, hamadríades e Críneas
enlaçam os laços
enquanto
Divas e Náides, Napéias, Nereidas, Oceânides e Oreades
buscam maçãs de ouro...
E Hemera, Hamadríades e Dríades arvoreiam colibris e rouxinóis gorjeiam
p’ra Limnátides, Aganipe, Hipocrene e Pegéias amantes
da relva, ali...










IV



Eros
sussurra ao vento o tom
Talia enamorada por seus lírios, entre tulipas, violetas, margaridas e
flor de laranjeiras ensaia uma dança e na contra-dança metamorfoseia
a máscara da comédia
em atos pastoris: um livro brota fruto imortal... Da aprendizagem... De Asas...
Num beijo
Eu sigo esse amor!




V



E com júbilo e prazeres da flauta doce soa
Esta lírica minha e tão sua... Ó amado, Leitor!
Ah! E pelas mãos de Euterpe... A música que inunda a Terra
Nos faz dançar... E prosseguir na Esperança...



Divina é a mente criativa!



VI



Rodopiando alegre e tangendo a lira
Terpsícore canta, mais linda não há
E a cotovia, as andorinhas e até as corujas tangem os acordes
num voo magistra!








VII


Em mímica, a amável Erato também tange
Do invisível tecido do nada uma lírica amorosa
E da pequena lira jorra,
No mundo dos homens imperfeitos, a estética...Beleza d’alma!



VIII


E a de muitos hinos, tão sacra
Em sua figura velada a insinuar todo o cerimonial
Do Banquete aos estetas... Só tu, Ó Polímnia!
És poema para os céus.




I X



Na folha da videira em sua mão uma clava e uma grinalda
Melpômene desvela
com sua máscara trágica a cena
Arión, o que possuía o dom da palavra e da imortalidade
transforma-se em Pegaso
e ilumina a percepção da beleza
no engendramento de um Ágape que o seu desejo pensou.






X



E altaneira, Urania passeia coroada de luz estelar
Vestindo azul,
Nas mãos o compasso e o globo celestial... Visão astronômica!




A poesia cósmica inunda meus olhos, coração e alma de estrelas
E no ENLACE
Um Museu se expande entre braços e abraços e a Deusa da Memória
Na constelação de Sagitário também abraça
E se lança... No infinito do verbo... E a língua surge e se aprimora...
A linguagem do ser!



XI



Humanizado Amor
Dessa vez ensaiou a glória nos passos e compassos
Mas também se revelou : escultura/pintura/história/poesia/ciência e
Consciência no lúdico prazer
Afim
Mnémosine e as filhas enlaçam... E nos cativam em seus véus!




*No Livro: DA APRENDIZAGEM... DE ASAS ( Inédito), de Vanda Lúcia da Costa Salles

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