sexta-feira, 6 de maio de 2011
MOMENTO DISCENTE: ENTREVISTA AO POETA ANTÓNIO GONÇALVES (ANGOLA)
Foto: António Gonçalves (Angola)
“Poesia/ não se aprende/ na escola/ o poeta é/ a escola/ a escol(h) a/ do poeta/ é uma sacola/ sem pega/ que se apega/como cola/des colando/palavra da sacola/escola/que o poeta doa”
ENTREVISTA DE ALUNOS BRASILEIROS AO POETA DE ANGOLA ANTÓNIO GONÇALVES-ANGOLA
A PARTIR DE AULAS EM LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURAS EM LÍNGUA PORTUGUESA, DA PROFª. VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES-BRASIL-2008
1ª.) SAULO LUIS LIMA DA SILVA : Senhor António Gonçalves, qual foi o seu primeiro livro escrito? E por que o escreveu?
R: O meu primeiro livro escrito chama-se “Cenas que o museke conhece” e foi escrito em 1978. Todavia, só viria a ser publicado em 2003 em Cuba. Escrevi esta novela primeiro como tributo a um grupo de patriotas do bairro onde nasci em que também fez parte um irmão meu e por outro lado, como homenagem aos “Musekes” do meu país já que constituem laboratórios vivos de várias amostras da identidade cultural.
1ª.) SAULO LUIS LIMA DA SILVA : Senhor António Gonçalves, qual foi o seu primeiro livro escrito? E por que o escreveu?
R: Um pai gosta dos seus filhos de forma igual. Em determinados momentos identifico-me mais com algum poema mas tempo depois acabo por sentir o mesmo com outro poema e assim sucessivamente
3ª.) MARLON PEREIRA : Você gosta do que faz ou alguma vez pensou em desistir?
R: Gosto do que faço. Comecei a escrever poesia aos 13 ou 14 anos e escrevi a minha primeira novela aos 18 anos daí em diante sempre estive comprometido com a literatura directa ou indirectamente.
4ª.) SABRINA DE PAULA SIMÕES : Poeta, você gostaria de escrever livros para crianças ou adolescentes? Por quê?
R: Escrever para crianças creio que não tenho vocação mas para adolescentes talvez um dia possa tentá-lo.
5ª.) WEVERTON VIEIRA BORHER : Como se sentiu ao construir o seu primeiro poema ? E o que é escrever em língua portuguesa?
R: Os primeiros poemas que escrevi foram de inspiração religiosa. Na altura, frequentava a igreja católica do meu bairro, “Bairro Popular”, hoje “Neves Bendinha” em Luanda onde nasci. Naturalmente, senti-me muito emocionado e feliz. Escrever en língua portuguesa para mim tem sido um exercício interessante porque os autores africanos, sempre têm a influência de uma língua africana, correspondente às áreas geográficas onde nasceu. No meu caso sinto a influência da língua Kimbundu que fala a minha mãe.
6ª.) THULLYANA : Como você se situaria em relação a poesia em língua portuguesa no mundo contemporâneo? Por quê?
R: Não sou a pessoa ideal para responder a esta pergunta. De todos modos, na minha modesta opinião, como poeta contemporâneo tenho dado o meu contributo para o enriquecimento e divulgação da poesia de língua portuguesa. Vivendo sete anos em Cuba publiquei mais de cinco livros bilingues, Português-Espanhol e faço parte de várias antologias de poesia publicadas em Angola, Cuba e Brasil.
7ª.) MIDIAN MAIA DE FARIA : As pessoas lendo o seu poema ou ouvindo-os ficam felizes?
R: Sim
8ª.) PAULO VINICIUS FERNANDES RANGEL : Senhor(es) poeta(s), sua obra é inspirada no povo Angolano ou no Continente Africano?
R: A minha obra é inspirada no povo angolano. Acontece que Angola é um país africano, daí que a barreira entre o meu país e o continente, é demasiada estreita, ou talvez não exista .
9ª.) RAIANNY SOARES SIQUEIRA : Como aconteceu em sua vida o encantamento da poesia ?
R: Aconteceu de forma espontânea. Eu vivo frequentemente momentos de inspiração e a única forma de acalmar-me é descarregar o que sinto numa folha de papel. As causas da inspiração são de vária ordem e a meu ver não têm explicação científica.
10ª.) KEVIN DE MORAES BORHER : Fale-nos sobre o fazer poético de “Transparências”? Como foi construí-lo?
R: “Transparências” (Livro) é considerado pela crítica como sendo até o momento o livro de poesia mais acabado esteticamente e com melhor elaboração do ponto de vista temático. Antes de Transparências havia publicado em 1996 “Adobe vermelho da Terra”, e o livro a que nos referimos saiu ao lume em 2004. Passaram precisamente oito anos de muita leitura e exercitação. “Transparências” é uma construção de poemas isolados. Os grandes temas deste livro são: a reivindicação da paz e o fim da guerra em Angola e no mundo, a luta pela igualdade social, o desenvolvimento harmonioso do planeta, a luta pela afirmação do continente africano, entre outros temas sem esquecer o amor.
11ª) RAFAELA FACUNDO CASTRO : Você prefere fazer seus poemas quando está triste ou alegre?
R: Quando estou triste.
12ª.) RAYANE CARLOS CORTES : Como você descobriu o seu talento? A Escola influenciou-o ?
R: Descobri o meu talento de forma espontânea mas depois de escrever “Cenas” dei a ler ao meu professor de português e ele gostou do livro daí ter posto na minha mente que um dia seria escritor. Naturalmente a escola influenciou-me muito.
13ª.) NAYARA TERRA SOUZA : Qual foi o seu livro que mais fez sucesso?
R: Até ao momento creio ter sido “A linguagem dos pássaros e dos sonhos” que esgotou praticamente em seis meses. Foi editado em Cuba pela Editoria Arte e Literatura e foi impresso na Colombia.
14ª.) CRISTIANE CESÁRIO : Em que momento você descobriu que gostava de fazer poemas? E seus familiares gostaram da idéia de ser poeta?
R: Ganhei maior conciência sobre a poesia depois de tomar contacto com a Brigada Jovem de Literatutra de Luanda. Mas o engajamento militante só viria acontecer nos primeiros anos da década 90. Os meus familiares apoiaram a ideia de ser poeta.
15ª.) ALINE DA SILVA NASCIMENTO : O(s) Senhor (es) pensa(m) em fazer uma autobiografia?
R: De momento não tenho pensado em escrever uma autobiografia, talvez quando tenha maior idade o faça.
16ª.) LUAN ARAUJO DE SOUZA : Como foi sair pela primeira vez do seu país, principalmente, para falar os seus poemas ?
R: A primeira vez que sai do meu país foi para ir precisamente ao Brasil em Salvador de Bahia. Foi uma experiência interessante, adorei
17ª.) PAULO VINÍCIUS FERNANDES RANGEL : Qual de sua obra o marcou mais, a ponto de deixá-lo rodopiando de contente ?
R: Até ao momento um livro inédito que se chama “Renascer sem corpo”.
18ª.) JHÉSSICA THAYANE CHAGAS VIEIRA : Em seu ponto de vista, como está a poesia hoje em seu país? Existe uma Poesia Negra Contemporânea?
R: A poesia no meu país está estagnada. Depois da Geração dos Novíssimos onde faço parte já não surgem grandes talentos. Existe uma poesia angolana contemporânea. É possível que dentro dela continuem a existir poetas que defendam a negritude. Creio que enquanto existir discriminação contra o negro, haverá sempre uma poesia a denunciar essa situação
19ª.) ANA CAROLINE RODRIGUES B. DOS SANTOS : Para vocês poetas, qual a importância da poesia na formação de uma pessoa ? Por quê ?
R: A poesia pode influenciar na formação de uma pessoa pelo valor humanístico que a mesma defende e promove. A poesia possibilita ao ser humano aventurar-se em mundos onde a ciência ainda não consegue chegar ou explicar, esse é um dos grandes atributos da poesia. Porquê? Porque o ser humano existe para crescer espiritualmente e a poesia pode ser um meio para essa realização.
20ª.) SUELLEN GOTTGTROY ANTUNES : Poesia é uma forma de aprendizagem? Por quê?
R: A poesia é uma forma de aprendizagem e de crescimento individual, porque o exercício poético como acto isolado, é capaz de abrir a mente humana para estágios nunca antes sentidos, e isso gera na pessoa um crescimento mental, e por vezes também espiritual.
21ª.) RAYANE CARLOS CORTES : Como chegou ao ponto de publicar o primeiro livro? O caminho foi difícil ou fácil?
R: Tive a sorte de publicar o meu primeiro livro “Gemido de pedra”, enquanto funcionáro de uma cadeia hoteleira. Trabalhava então como Sub-director de um hotel em Luanda e o administrador da Empresa gentilmente patrocinou o primeiro e o meu segundo livro. Estou eternamente grato a essa pessoa de nacionalidade portuguesa.
22ª.) MARCOS JUNIOR NERI DE SOUZA : Como é a sua vida escrevendo poesia? E como é conceber entrevistas?
R: Eu faço uma vida normal como qualquer cidadão. O que passa é que os poetas sentem os problemas da sociedade de forma mais ardente que as pessoas que nao o sao. Dou poucas entrevistas, apenas quando creio ser nencessário ou quando publico um livro novo.
23ª.) ANDRÉ JUNIOR MONTEIRO BATISTA : Que poetas ou escritores influenciaram em sua carreira ? E o que você teria para dizer aos jovens poetas que iniciam?
R: Os poetas que influenciaram a minha carreira foram Agostinho Neto, Viriato da Cruz e António Jacinto de Angola. Do Caribe Nicolás Guillén, do Brasil Carlos Drummond de Andrade e de Portugal Fernando Pessoa. Como prosador fui influenciado por Jorge Amado, Dostoievski e Leon Tolstoi. Aos jovens poetas que iniciam devem ler bastante e não ter pressa em publicar. Fazer literatura é uma tentativa de aportar algo novo neste imenso edifício. Se não temos a certeza de que estamos a produzir alguma novidade será melhor continuar a trabalhar os textos.
24ª.) AMANDA PINHEIRO DO NASCIMENTO : Com quantos anos você descobriu que queria ser poeta ? E a quem você é agradecido?
R: Descobri que queria ser escritor depois de escrever a novela aos 18 anos. Decidi que seria poeta depois de publicar “Gemido de pedra” em 1994, tinha então 34 anos. Estou agradecido ao poeta angolano Lopito Feijoó que me emprestou vários livros sobre teoria literária incluindo números da revista de poesia “Dimensão” que se editou no Brasil por Guido Brilharinho.
25ª.) MICHELI DE FARIA : Que escritor ou poeta brasileiro atual, você admira ? Por quê?
R: Admiro o poeta brasileiro Thiago de Melo, autor dos “Estatutos do Homem”, pelo humanismo que transpira os seus textos.
Obs.: Desde já, o nosso muito obrigada!
*Cara professora.
Com muito gosto envio-lhe as respostas ao questionário que me enviou.
Carinhosamente,
Antonio Gonçalves
quarta-feira, 26 de novembro de 2008, 22:28:04
**ANTÓNIO GONÇALVES: nasceu aos 10 de Agosto de 1960 em Luanda (Angola). Estudou Gerência Hoteleira. Realizou estudos de Linguística no Instituto Superior de Ciências da Educação.
Exerceu funções como Diretor de unidades hoteleiras de Angola. Foi Secretário Geral da União de Escritores Angolanos (UEA). Atualmente é o Conselheiro Cultural da República de Angola em Cuba.
Tem publicado os seguintes livros: Gemido de pedra (Poesia-1994), Versos Libertinos (Poesia-1995), Adobe vermelho da terra (Poesia-1996), Buscando o Homem (Seleção de poemas-2000), A África que observo com os dedos (Poema postal-2002), Cenas que o museke conhece (Novela-2003), Transparências (Poesia-2004), A linguagem dos pássaros e dos sonhos (Seleção de poemas de amor-2005), As vozes do caminho (Poesia-2005). A Quinta Estação do Tempo.
Proferiu várias conferências sobre cultura, arte e política, das quais algumas já estão publicadas em jornais e revistas de Angola e de Cuba.
É co-autor do plaquet bilingue Português-Francês, “Cacimbo 2000”, com os poetas angolanos Amélia da Lomba, João Maimona e com o poeta francês Emmanuel Tugni. Faz parte, com mais 41 poetas de Angola, da “Antologia do Mar na Poesia Africana de Língua Portuguesa do Século XX”, organizada pela investigadora brasileira Carmen Lucia Tindó Ribeiro Secco. O Sétimo Caminho (Poesia-2006)
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