domingo, 27 de março de 2011
POESIA: PESCADORES - VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES (BRASIL)*
Foto: Colônia de Pesca, no Gradim-São Gonçalo-RJ
PESCADORES
VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES (BRASIL)
com mãos calejadas jogam as redes,
enredam os peixes,
e eles sorriem como meninos
quando olham o mar e as ondas se fazem além
como o infinito
os pés marcam a areia,
a lama,
a trama,
o fio de nylon,
um naco de pão,
o limão e a laranja
no trago da cachaça
um cheiro de maresia não exprime as incertezas
e nem a destreza
das gambiarras
na água os barcos,
a maré tá cheia
e os pescadores lançam-se ao mar
Em rápidas preces,
o que quer que seja,
assim será... Se a glória é estar no mar!
*VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES: nasceu em Italva, interior do Rio de Janeiro, Brasil, em 25 de abril de 1956. É escritora, poeta, ensaísta, artista plástica, tradutora e conferencista.Graduada em Letras/Português-literaturas, pela UERJ/FFP;Pós-Graduada em Literatura Infanto-Juvenil pela UFF;e em Arteterapia na Saúde e na Educação pela pela UCAM.Catedrática de Literatura do Museu Belgrano(Argentina), ortogada pelo Fundador e Diretor Dr. Ricardo Vitiritti; Diretora Internacional do Taller Artístico Alas Rotas-Alitas de América, nomeada pela Fundadora e Diretora Geral do T.A.A.R., em Argentina Srª Silvia Aida Catalán; Fundadora e Diretora do ENLACE MPME MUSEU PÓS-MODERNO DE EDUCAÇÃO.
Publicou: No tempo distraído (narrativas, Ágora da Ilha,2001),Diversidades e Loucuras em Obras de Arte- um estudo em Arteterapia (ensaio, Ágora da Ilha, 2001),A palavra do menino e as abobrinhas ( infanto-juvenil), HP.Editora,2005), O chamado das musas.Pô-Ética Humana: o enigma do recheio- a arteterapia ao sabor da educação brasileira(pesquisa poética em arte e educação, Creadores Argentinos, 2008; Núncia Poética (poesias, Cbje,2010). Participa também das seguintes antologias: Os melhores poetas brasileiros Hoje/1985(Shogum Editora, 1985), III Encuentro Nacional de Narradores y Poetas - Unidos por las Letras!-2009-Bialet Massé (Córdoba, Argentina,2009), Poesia em Trânsito-Brasil/Argentina (La Luna Que, Buenos Aires, 2009, e 1º Antología Literaria Nacional e Internacional 2010 " Ser Voz en el Silencio, S.A.L.A.C. va.Carlos Paz, Córdoba-Argentina (Galia's, Editora Independiente,2010.
quinta-feira, 24 de março de 2011
HOMENAGEM: SE GIACOMETTI ESTIVESSE JUNTO-HENRIK NORDBRANDT (DINAMARCA)*
Foto: Bandeira da Dinamarca
FotO: NORDBRANDT (Dinamarca)
GIACOMETTI HAVDE VÆRET MED
HENRIK NORDBRANDT (DINAMARCA)
Alting har sin grænse, siger man.
Jeg står hver dag ved en ny
og kommer dermed til at tænke
på uendeligheden, dette
verdens mærkeligste ord
fordi kun sproget fatter det
i sproget selv, så nok en grænse
hermed er sat.
Den er tydelig, om end
som sin baggrund, farveløs
som sorgen
der har fortæret alle farver
så deres fravær
træder desto tydeligere frem.
Dette billede kan derfor hedde
‘Den blå ørken’ og få plads
på bagsiden af sig selv
i det næste rum
så meningen med disse ord
bliver sand.
Er alt så kommet med?
Som det går, medbringer jeg
nu kun mine lommers indhold.
Så måske kan det, der mangler
kun være en statue
af mig selv.
Den skal være ufatteligt høj
og af jern, i anden person ental.
SE GIACOMETTI ESTIVESSE JUNTO
HENRIK NORDBRANDT (DINAMARCA)
Tradução: Vanda Lúcia da Costa Salles (Brasil)
Tudo tem seu limite, as pessoas dizem.
Cada dia eu fico em uma nova
e assim penso
sobre o infinito, esta
estranha palavra no mundo
porque a linguagem que contém apenas isto
dentro de sua própria língua, então
o limite é assim definido.
É evidente, porém
como pano de fundo incolor
como a aflição
que consumiu todas as cores
assim a sua ausência
destaca-se tudo às claras.
A imagem pode ser chamada
O deserto azul e colocado
do outro lado de si mesmo
na sala ao lado
o significado mais profundo dessas palavras
torna-se verdade.
Tudo veio comigo?
Como se eu trouxesse apenas
o conteúdo dos meus bolsos.
Assim, talvez o que esteja faltando
poderia ser uma estátua
de mim mesmo.
Seria inacreditavelmente alta
e feita de ferro, na segunda pessoa do singular.
PESADELO
HENRIK NORDBRANDT (DINAMARCA)
Tradução: Vanda Lúcia da Costa Salles (Brasil)
Uma nuvem cinza passou em frente ao sol
abaixando o lado montês
para uma toca de inverno
para meu amor
e o amante dela.
Uma ponte estrondeou em baixo de meus pés
mas meus passos
estava sem direção.
Era da mesma maneira que longe pela ponte
como eu tinha vindo de minha infância.
Assim morte teve que ser achada
em algum lugar entre eu e os salgueiros cinzentos
no banco oposto.
Tudo durou menos que um minuto
mas o resto do mundo.
*HENRIK NORDBRANDT : nasceu em 21 de março de 1945, na Dinamarca. É poeta, novelista e ensaísta.
Publicou:
Digte (1966)
Miniaturer (1967)
Syvsoverne (1969)
Omgivelser (1972)
Opbrud og ankomster (1974)
Ode til blæksprutten og andre kærlighedsdigte (1975)
Glas (1976)
Istid (1977)
Guds hus (1977)
Breve fra en ottoman (1978)
Rosen fra Lesbos (1979)
Spogelselege (1979)
Forsvar for vinden under doren (1980)
Armenia (1982)
84 digte (1984)
Armenia (1984)
Violinbyggernes by (1985)
Håndens skælven i november (1986)
Vandspejlet (1989)
Glemmesteder (1991)
Stovets tyngde (1992)
Ormene ved himlens port (1995)
Egne digte (2000)
(in:http://denmark.poetryinternationalweb.org/piw_cms/cms/cms_module/index.php?obj_id=432)
terça-feira, 22 de março de 2011
HOMENAGEM: SKANK- SULTILMENTE - Clipe Oficial (Melhor Clipe - VMB 2009)
" Em minha mente a poesia é luz que aplaca a agonia da lucidez repentina..."
Vanda Lúcia da Costa Salles (Brasil)
segunda-feira, 21 de março de 2011
MOMENTO DISCENTE; EU AMO VOCÊ - JESSICA CORDOEIRA (BRASIL)*
Foto: Behrens
EU AMO VOCÊ
JESSICA CORDOEIRA(BRASIL)
Por mais que eu tente negar
eu não posso mais guardar esse segredo dentro de mim.
Por mais que eu tente abrir o jogo
eu sinto medo
Eu não sei o que está acontecendo
Só sei que estou lhe querendo
Eu não posso me declarar porque
eu não sei se você me ama
já não sei o que vejo em você.
Já não consigo mais suportar
o desejo de lhe amar
Eu sei que tenho que lhe falar a verdade
mesmo sem ter vontade de exclarecer
Tenho que arranjar um meio
para que sem receio
dizer
Eu amo você.
*Em prática de ensino: jogos de linguagem, o poético do olhar.
sexta-feira, 18 de março de 2011
HOMENAGEM: OIGO TU CUERPO- CORAL BRACHO ( MÉXICO)*
Foto: Bandeira do México
Foto: Coral Bracho
OIGO TU CUERPO
CORAL BRACHO (MÉXICO)*
Oigo tu cuerpo con la avidez abrevada
y tranquila de quien se impregna
(de quien emerge,
de quien se extiende saturado, recorrido de esperma)
en la humedad cifrada (suave oráculo espeso; templo)
en los limos, embalses tibios, deltas, de su origen;
bebo (tus raíces abiertas y penetrables;
en tus costas lascivas -cieno brillante- landas)
los designios musgosos,
tus savias densas (parvas de lianas ebrias)
Huelo en tus bordes profundos,
expectantes, las brasas, en tus selvas untuosas, las vertientes.
Oigo (tu semen táctil) los veneros, las larvas; (ábside fértil)
Toco en tus ciénegas vivas, en tus lamas: los rastros en tu fragua envolvente;
los indicios (Abro a tus muslos ungidos, rezumantes; escanciados de luz)
Oigo en tus légamos agrios, a tu orilla: los palpos,
los augurios -siglas inmersas; blastos-.
En tus atrios: las huellas vítreas,
las libaciones (glebas fecundas), los hervideros.
*CORAL BRACHO : nació en la Ciudad de México el 22 de mayo de 1951. Es una escritora y traductora mexicana.
segunda-feira, 14 de março de 2011
HOMENAGEM: TAMBÉM TU, MULHER... - JOSÉ LUIS MENDONÇA (ANGOLA)*
Foto: Bandeira de Angola
Foto: José Luis Mendonça (Angola)
TAMBÉM TU, MULHER...
Também tu, mulher, és uma riqueza
para a minha alma amargurada.
Dás-me saúde e alegria, vontade de viver
coisas tão simples e boas como a verdade.
Demais só de pensar-te o meu olhar se ilumina
e todo o meu corpo se eletriza
com o calor subindo do meu sexo.
Assim te procuro atento na selvagem cidade
viajante errante nos caminhos da vida
como busco o pão, a casa e a flor.
*JOSÉ LUIS MENDONÇA: nasceu em 24 de Novembro de 1955, na província do Kwanza Norte. É licenciado em Direito pela Universidade Agostinho Neto (UAN) e membro da União de Escritores Angolanos (UEA).
É jornalista, professor e autor, entre outros, dos livros “Chuva Novembrina”, galardoado com o prémio de poesia "Sagrada Esperança", “Gíria de Cacimbo”, Prémio Sonangol de Literatura, “Respirar as Mãos na Pedra”, vencedor do Grande Prémio Sonangol de Literatura e “Quero Acordar a Alva” prémio de Literatura "Sagrada Esperança".
O criador escreveu ainda as obras “Logaríntimos da alma”, “Poemas de amar”e "Ngoma do Negro Metal”.
sábado, 12 de março de 2011
HOMENAGEM: NAÇÕES DO MUNDO - ALBERTO OLIVEIRA LOPES (GUINÉ-BISSAU)*
Foto: Bandeira de Guiné-Bissau
Foto: Alberto Oliveira Lopes (Guiné-Bissau)
NAÇÕES DO MUNDO
ALBERTO OLIVEIRA LOPES (GUINÉ-BISSAU)
Vi as nações do mundo reunidas
Apreendi a não me envergonhar da minha
Vi as pessoas trocarem de identidade
Apreendi a conservar a minha
Ouvi gritos de liberdade
Apreendi a lutar pela minha
Vi pessoas com vergonha de ser guineenses
Apreendi a apresentar-me como guineense
Por que ter vergonha de ser guineense?
Se guineense sou
Por que ter vergonha de ser negro?
Se negro sou
Por que ter vergonha da minha identidade?
Por que ter vergonha da minha identidade?
Até quando..
Até quando..
Até quando..
* ALBERTO OLIVEIRA LOPES(BETO): nasceu em Guiné-Bissau.Graduando enfermagem, Cent. Univ. S. Camilo,São Paulo - SP, Brasil. É um promissor poeta contemporâneo.
sexta-feira, 11 de março de 2011
HOMENAGEM: POR QUE JESUS CRISTO É SEMPRE BRANCO-ADÃO VENTURA (BRASIL)*
Foto: bandeira do Brasil
Foto: Adão Ventura(Brasil)
POR QUE JESUS CRISTO É SEMPRE BRANCO?
ADÃO VENTURA(BRASIL)
- e o negros?
- e os índios?
- e os amarelos?
- e os chicanos do Estado do Novo México?
- e os cafusos de Santo Antônio do Itambé?
ZUMBI
ADÃO VENTURA (BRASIL)
Rei de corpo
e porte
príncipe de guerra
de força e açoite.
ALFABETIZAÇÃO
ADÃO VENTURA (BRASIL)
Papai
levava tempo
para redigir uma carta
Já mamãe Sebastiana de José Teodoro
teve a emoção de assinar seu nome completo
já quase aos setenta anos.
*ADÃO VENTURA FERREIRA REIS:nasceu em Santo Antônio do Itambé, Distrito do Serro, MG,BRASIL, em 1946. Advogado, formado pela Universidade Federal de Minas Gerais, e em 1973 a convite da University of New Mexico, foi para os Estados Unidos onde lecionou literatura contemporânea.
Publicou diversos livros, dentre eles A cor da Pele, Texturafro e As musculaturas do Arco do Triunfo, já participou de várias antologias e seus poemas foram traduzidos para o inglês e o alemão. Teve um de seus poemas incluído na antologia Os Cem Melhores Poemas Brasileros do Século, organizada por Italo Moriconi ( Editora Objetiva - SP). Sua poesia mostra-se impregnada pelas questões da negritude e, simultaneamente, por uma simplicidade que a faz legítima, e fluida, ou como escreveu Manoel Lobato: "A iniquidade do mundo e o mistério da vida gritam na sonoridade de seus versos".
Em 2002 publicou Litanias de Cão.
Faleceu em junho de 2004.
terça-feira, 8 de março de 2011
POESIA: A SINA - VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES (BRASIL)*
Foto: bandeira do Brasil
Foto: Vanda Lúcia da Costa Salles (Brasil)
A SINA
VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES (BRASIL)
é perfeito o gomo
da laranja cortada
ao meio
caramelado o riso
expande o gosto
da mulher que recolhe o sabor
e nem os caroços explicam
o poético
da sina... Nem as sobras em cascas!
*VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES: nasceu em Italva, interior do Rio de Janeiro, Brasil, em 25 de abril de 1956. É escritora, poeta, ensaísta, artista plástica, tradutora e conferencista.Graduada em Letras/Português-literaturas, pela UERJ/FFP;Pós-Graduada em Literatura Infanto-Juvenil pela UFF;e em Arteterapia na Saúde e na Educação pela pela UCAM.Catedrática de Literatura do Museu Belgrano(Argentina), ortogada pelo Fundador e Diretor Dr. Ricardo Vitiritti; Diretora Internacional do Taller Artístico Alas Rotas-Alitas de América, nomeada pela Fundadora e Diretora Geral do T.A.A.R., em Argentina Srª Silvia Aida Catalán; Fundadora e Diretora do ENLACE MUSEU PÓS-MODERNO DE LITERATURA.
Publicou: No tempo distraído (narrativas, Ágora da Ilha,2001),Diversidades e Loucuras em Obras de Arte- um estudo em Arteterapia (ensaio, Ágora da Ilha, 2001),A palavra do menino e as abobrinhas 9 infanto-juvenilo, HP.Editora,2005), O chamado das musas.Pô-Ética Humana: o enigma do recheio- a arteterapia ao sabor da educação brasileira(pesquisa poética em arte e educação, Creadores Argentinos, 2008; Núncia Poética (poesias, Cbje,2010). Participa também das seguintes antologias: Os melhores poetas brasileiros Hoje/1985(Shogum Editora, 1985), III Encuentro Nacional de Narradores y Poetas - Unidos por las Letras!-2009-Bialet Massé (Córdoba, Argentina,2009), Poesia em Trânsito-Brasil/Argentina (La Luna Que, Buenos Aires, 2009, e 1º Antología Literaria Nacional e Internacional 2010 " Ser Voz en el Silencio, S.A.L.A.C. va.Carlos Paz, Córdoba-Argentina (Galia's, Editora Independiente,2010.
segunda-feira, 7 de março de 2011
HOMENAGEM: EL CANTO DEL HÉROE- CARMEN KARIN ALDREY (CUBA)*
Foto: Bandeira de Cuba
Foto: A pintora e escritora cubana Carmen Karin Aldrey (Cuba)
Foto: Tela de CARMEN KARIN ALDREY (Cuba)
EL CANTO DEL HÉROI
CARMEN KARIN ALDREY (CUBA)
Como yo nací oyendo teques y arengas en vez de cantos de cuna, no se me hizo imposible comprender la dimensión de los cambios de aquella ciudad, con sus estatuas y paladines de bronce derrocados. Por donde quiera que miraba yacían obstruyendo el paso de los transeúntes, tan parecidos a los dioses reciclados, y se podían observar a los niños saltando encima de los simbolismos, de los caballos de enormes y estáticas colas, de las espadas con aspecto de rayos inmisericordes que se clavaban contra el suelo como esgrimiendo su agonía.
Para decir la verdad, esto no lo había visto en ninguna parte. En mi país de origen a los héroes se les mantenía invictos, embetunados y airosos, con sus dorados relieves más brillosos que el sol y con sus inscripciones grandilocuentes retando las transformaciones del lenguaje. A estos héroes, pensaba yo mientras caminaba a través de las plazoletas, los hicieron añicos los mismos que los erigieron. Ya no servían para amonestar, ni para encumbrar ejemplos, ni para esconder las oscuras mañas del poder. Ahora eran chatarra, pedazos de cobre chamuscados sin historia, patéticos espectros de un pasado que se quería olvidar a toda costa sin tener en cuenta que las acciones permanecerían allí, por los siglos de los siglos, en el corazón de varias generaciones carcomidas por la incertidumbre.
Y yo me preguntaba, mirando a una de las narices enterrada contra el lodo, si en alguna parte de esa ciudad de aspecto surrealista existirían fantasmas asustando con sus lamentos el sueño de los ciudadanos, caminando con los brazos estirados en la oscuridad de los palacios y a través de los patios de piedra milenaria, testigos callados de sangres derramadas inútilmente, o en el mejor de los casos, útiles en esa creación de ídolos en la que los ilusionistas eran expertos forjadores.
Era primavera, pero yo estaba aterido. Tres grados sobre cero eran muy pocos grados para un cuerpo acostumbrado a la suavidad de los abriles tropicales. La escarcha comenzaba a fundirse con la tierra jaspeada de hierba nueva y a dejar por aquí y por allá charquitos café con leche, justo donde las perras orinaban el estro de su fertilidad. Un paisaje normal, un día como cualquier otro en todas las ciudades del mundo. Sin embargo, yo me sentía distinto. No era estar en Madrid, donde después de un día de emociones multiplicadas por la manzanilla, me parecía lógica y subyugante. Y no era París, con su torre de hierro cerca de las nubes que le daba esa sensación de realidad subliminal. Y no era ni siquiera una de las tantas ciudades europeas por las que había pasado en mi peregrinaje de buscador de historias, era una ciudad salida de las ruinas, una ciudad de escombros en resurgimiento, de contradicciones heredadas, hermosa y populosa, fea y solitaria, sin héroes, impersonal e íntima, la increíble urbe de olvidadas sinfonías y de patentes empolvadas en los misteriosos archivos de una alcaldía sin alcaldes, una ciudad que la historia había hecho contradictoria después de cruentas batallas inútiles.
¿Qué hacía esta mole que soy yo en aquél lugar, vacío de alegrías, ultrajado por estatuas derribadas, sobrevolado por periódicos que nadie quiso leer, rodeado por parcelas que nadie quiso cultivar, triste por no saber qué hacer con una libertad otorgada a destiempo? ¿Estaría yo errado y ese sentimiento de abandono no sería más que un espejismo producto de mis falsas expectaciones? Había ido impulsado por mis esperanzas de hombre que no tiene los derechos elementales en su propio país, pero mi desolación aumentaba gradualmente, llenándome de pesimismo gotica a gotica, como si estuviera encerrado en una cueva húmeda y resbaladiza.
Aunque no lo crean, pasé horas caminando sin saber a dónde ir, confundido entre la muchedumbre agitada y sacando de vez en cuando mi petaca de ginebra para entrar en calor o aliviar mi desconcierto, todavía no lo sé con exactitud. La cosa es que cuando llegué al hotel donde estaba hospedado, las paredes me empezaron a dar vueltas y tuve que subir por aquellas escaleras de caracol sujetado a las barandas, dando traspiés y chiflando rancheras para disimular, porque definitivamente me había emborrachado con la jarana, de licor, de frustración, de sueños pueriles que tocaban a su fin, de la hermosura de catedrales atestadas de almas reconciliadas con el amor, de caras coloradas por el frío producto de largas colas a la intemperie sólo por la esperanza de alcanzar tentaciones occidentales con papitas. Y cuando entré a mi habitación, callada y con las viejas cortinas olorosas a biblioteca, me fui directo a la cama, con sus almohadas gordiflonas y sus mantas de antárticos espesores. Y me sumí en el más profundo de los sueños, olvidando las muecas grotescas de los héroes caídos, dejando atrás las imágenes de cientos de libélulas amordazadas por el granizo y sintiendo con gratitud el calorcito que me iba desprendiendo de la realidad.
Cuando me desperté al día siguiente ya era mediodía. Sentía pereza y todavía la cabeza me daba vueltas como un trompo. Sin pensarlo mucho me levanté y me fui directo al maletín de viaje para buscar una aspirina. El agua de la pila estaba helada, así que me tomé la pastilla y me lavé la cara con rapidez. Hoy no me baño, pensé. La verdad es que todavía no olía. Mi cuerpo tenía la fragancia a desodorante de la noche anterior. Debe ser por el clima, me dije contento de volar el turno. Entonces me dirigí a la ventana. Al correr las cortinas que pesaban más que un telón de escenario, el increíble panorama de la Plaza apareció majestuoso. Se veían niños corriendo, señoras con bolsas de tela por donde asomaban las puntas tentadoras de hogazas recién horneadas, hombres caminando con rapidez apretando bajo el brazo el periódico, jóvenes bulliciosos entonando canciones en otros idiomas, viejitas cubiertas con pañuelos apretujando entre sus manos rosarios y misales, en fin, todo lo cotidiano del vivir apareciendo como una fotografía en movimiento, con los colores grises de una primavera nublada y ajena.
Y ahí fue cuando los recuerdos me empezaron a invadir, llegando como navajas voraces a mi sangre, interrumpiendo la paz de la resaca y haciéndome sentir tan solo como la una, triste como un buitre sin vacas muertas, aplastado como un jugador que lo ha perdido todo. Por eso empecé a cantar, sí señor, a cantar sollozando los boleros de mi barrio, a sollozar cantando las notas de aquellos sones de mis padres ya fallecidos, a moquear por las estatuas de mis enemigos sin remordimiento, a cantarle juglares a los héroes sin flores de mi tierra y a los que detrás de los cristales de la ventana del hotel no podían escuchar.
El día en que me fui de aquella ciudad estaba más muerto que antes, pero al menos había comprendido que nuestra analogía con su tragedia era un hecho surgido milenios atrás, cuando en los albores de la humanidad nacieron los primeros héroes.
Carmen Karin Aldrey, de su libro "Exilios Ajenos" (c)
(In:http://karin-aldrey-soligregario.blogspot.com/ )
*CARMEN KARIN ALDREY: nasceu em Cuba. Morou nos EUA e na Espanha, onde já expôs em vários locais. Quando se trata de arte, Karin não é apenas uma artista talentosa, ela é também umA escritora, uma fotógrafa e web designer. Tem participado em numerosos festivais de arte, exposições coletivas, entre outros com críticas positivas. Recentemente participou com um seu trabalho do livro "Chuva Ácida", do poeta Espanhol Francisco Muñoz Soler.
domingo, 6 de março de 2011
HOMENAGEM: HONORIS CAUSA- ULISSES TAVARES (BRASIL)*
Foto: Bandeira do Brasil
Foto: Ulisses Tavares
HONORIS CAUSA
ULISSES TAVARES (BRASIL)
Ah, o amor é uma bobagem
Escrevi, li, conversei a respeito.
Mas depois de conhecer você
Bagunçou tudo no meu peito
Perguntam-se o amor é nada?
Ora, mais respieto se dê!
Bolas, isso é pergunta de quem
Não conhece você!
(Diário de uma paixão. São Paulo:Geração Editorial, 2003)
* ULISSES TAVARES:nasceu em Sorocaba(SÃO PAULO), em 1950,publicou seu primeiro livro de poemas aos 9 anos e nunca mais parou de escrever e ler de tudo, dos clássicos até bulas de remédios.
Está com 74 livros publicados, em praticamente todos os gêneros e assuntos. Dentre eles, destacam-se alguns sucessos recentes: "Subs" (história em quadrinhos para adultos- Editora Devir); "Viva a poesia viva" (poesias para crianças - Editora Saraiva); "Será uma vez a louca aventura de criar uma história" (ficção juvenil- DCL Editora); "Guia do Homem - que a mulher também deve ler" (auto-ajuda - Geração Editorial); "Fábulas do Futuro" (fábulas - Editora do Brasil).
Mesmo num gênero considerado o patinho feio da literatura (a poesia, esse cisne), já alcançou mais de 500 mil exemplares vendidos.
Nos intervalos da literatura, Ulisses se dedica a muitas outras paixões: é professor de pós-graduação em web marketing; jornalista digital; compositor letrista; dramaturgo; criativo publicitário internacionalmente premiado; militante de grupos de proteção aos animais; expert em marketing político e palestrante de criatividade aplicada, internet, literatura e aprimoramento pessoal.
Mora em uma fazenda ecológica próxima de São Paulo e cria cachorros da raça english springer spaniel.
sábado, 5 de março de 2011
HOMENAGEM: COMPRENDER- NILDA ETEL DELUCA (ARGENTINA)*
Foto: Bandeira da Argentina
COMPRENDER
NILDA ETEL DELUCA (ARGENTINA)*
¿Cómo comprender que la juventud no está
y darse cuenta que el corazón aún quiere amar?
Pero los huesos duelen, la piel envejece,
la figura se desdibuja perdiendo las curvas.
¿Quién me ayuda?
Calma mis ansias la lapicera que consecuente,
hasta la última gota de tinta está plena.
Así es la sangre que pide a borbotones,
que el organismo esté alerta a cualquier mensaje
de otro corazón triste y lo retenga.
La música que vuela de la radio,
me comprende en cada letra,
me sorprende, me anima a quererme,
a pensar en positivo…
¡Qué no estoy vieja!
En mis arterias fluye savia
que mis neuronas despiertan.
Ser joven: es sólo en paso en la vida,
como un surco en la tierra
que recibió su semilla y el árbol creció,
se encuentra erguido,
como mi ser que, oxigenado, cuenta vivencias…
COMPREENDER
NILDA ETEL DELUCA (ARGENTINA)
Tradução: Vanda Lúcia da Costa Salles (Brasil)
Como compreender que a juventude já não está
E dar-se conta que o coração ainda quer amar
Porém os ossos doem, a pele envelhece,
A figura se desfoca perdendo as curvas.
Quem me ajuda?
Acalma meus medos a caneta que consistente,
até a última gota de tinta, está cheia.
Este é o sangue que chama a contenda,
o corpo está em alerta para qualquer mensagem
de outro coração triste a segurá-la.
A música voa do rádio,
Incluo-me em cada letra,
me surpreende, incentiva-me a amar,
a pensar positivo ...
Que não sou velha!
Seiva corre em minhas veias
acorda meus neurônios.
Ser jovem: só aconteceu na vida
como um sulco na terra
que recebeu sua semente e a árvore cresceu,
está ereta,
como o meu ser que oxigenado, tem experiências ...
NILDA ETEL DELUCA: nació em Quilmes, provincia de Buenos Aires,Argentina.
sexta-feira, 4 de março de 2011
HOMENAGEM: SÓ DE SACANAGEM - ELISA LUCINDA (BRASIL)*
Foto: Bandeira do Brasil
Foto: Elisa Lucinda
SÓ DE SACANAGEM
ELISA LUCINDA(BRASIL)
Meu coração está aos pulos!
Quantas vezes minha esperança será posta à prova?
Por quantas provas terá ela que passar? Tudo isso que está aí no ar, malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro, do meu, do nosso dinheiro que reservamos duramente para educar os meninos mais pobres que nós, para cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais, esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e eu não posso mais.
Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz, minha confiança vai ser posta à prova?
Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais?
É certo que tempos difíceis existem para aperfeiçoar o aprendiz, mas não é certo que a mentira dos maus brasileiros venha quebrar no nosso nariz.
Meu coração está no escuro, a luz é simples, regada ao conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e os justos que os precederam: "Não roubarás", "Devolva o lápis do coleguinha", "Esse apontador não é seu, minha filha". Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido que escutar.
Até habeas corpus preventivo, coisa da qual nunca tinha visto falar e sobre a qual minha pobre lógica ainda insiste: esse é o tipo de benefício que só ao culpado interessará. Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear: mais honesta ainda vou ficar.
Só de sacanagem! Dirão: "Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo mundo rouba" e vou dizer: "Não importa, será esse o meu carnaval, vou confiar mais e outra vez. Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos, vamos pagar limpo a quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês. Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o escambau."
Dirão: "É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio de Portugal". Eu direi: Não admito, minha esperança é imortal. Eu repito, ouviram? Imortal! Sei que não dá para mudar o começo mas, se a gente quiser, vai dar para mudar o final!
PENETRAÇÃO DO POEMA DAS SETE FACES
(A Carlos Drummond de Andrade)
Ele entrou em mim sem cerimônias
Meu amigo seu poema em mim se estabeleceu
Na primeira fala eu já falava como se fosse meu
O poema só existe quando pode ser do outro
Quando cabe na vida do outro
Sem serventia não há poesia não há poeta não há nada
Há apenas frases e desabafos pessoais
Me ouça, Carlos, choro toda vez que minha boca diz
A letra que eu sei que você escreveu com lágrimas
Te amo porque nunca nos vimos
E me impressiono com o estupendo conhecimento
Que temos um do outro
Carlos, me escuta
Você que dizem ter morrido
Me ressuscitou ontem à tarde
A mim a quem chamam viva
Meu coração volta a ser uma remington disposta
Aprendi outra vez com você
A ouvir o barulho das montanhas
A perceber o silêncio dos carros
Ontem decorei um poema seu
Em cinco minutos
Agora dorme, Carlos.
COR - RESPONDÊNCIA
ELISA LUCINDA (BRASIL)
Remeta-me os dedos
em vez de cartas de amor
que nunca escreves
que nunca recebo.
Passeiam em mim estas tardes
que parecem repetir
o amor bem feito
que voce tinha mania de fazer comigo.
Não sei amigo
se era o seu jeito
ou de propósito
mas era bom, sempre bom
e assanhava as tardes.
Refaça o verso
que mantinha sempre tesa
a minha rima
firme
confirme
o ardor dessas jorradas
de versos que nos bolinaram os dois
a dois.
Pense em mim
e me visite no correio
de pombos onde a gente se confunde
Repito:
Se meta na minha vida
outra vez meta
Remeta.
( In: O semelhante, Editora Record, 1998 - Rio de Janeiro, Brasil)
*ELISA LUCINDA - nasceu em 2 de fevereiro de 1958, em Vitória, Espírito Santos-Brasil. Poeta, professora universitária, jornalista e atriz de teatro.
quinta-feira, 3 de março de 2011
HOMENAGEM: O POETA É UM GUARDADOR - ANA HATHERLY (PORTUGAL)*
Foto: Bandeira de Portugal
Foto: Ana Hatherly
O POETA É UM GUARDADOR
ANA HATHERLY (PORTUGAL)
O poeta é um guardador
Guarda a diferença
Guarda da indiferença
No incerto
Guarda a certeza da voz
SE UMA PAUSA NÃO É FIM
ANA HATHERLY (PORTUGAL)
Se uma pausa não é fim
e silêncio não é ausência,
se um ramo partido não mata uma árvore,
um amor que é perdido,será acabado?
um ouvido que escuta
uma alma que espera...
-uma onda desfeita
É ou já não era?
Nuvem solitária,
silenciosa e breve,
nuvem transparente,
desenho etéreo de anjo distraído...
nuvem,
esquecida em céu de esperança,
forma irreal de sonho interrompido..
nuvem,
luz e sombra,
forma e movimento,
fantasia breve de ânsia de infinito...
nuvem que foste
e já não és:
desejo formulado e incompreendido.
*ANA HATHERLY: poeta, tradutora, ensaísta e professora universitária, nasceu no Porto em 1929. É licenciada pela Universidade de Lisboa e Doutorada em Literaturas Hispânicas pela Universidade de Berkeley (U.S.A.). Estudou música e arte cinematográfica. Iniciou a sua carreira literária em 1958 com o livro de poemas Um Ritmo Perdido. Foi uma das principais colaboradoras do grupo de Poesia experimental, nos anos 60 e 70. A sua poesia reúne fortes tendências barroquizantes e visuais. Algumas das suas obras fundem a expressão poética com a intervenção plástica. É o caso, por exemplo, de Mapas da Imaginação e da Memória (1973), bem como de várias exposições que incluem desenho, pintura e colagem, realizada em galerias e centros de exposições. O seu trabalho está representado nas mais importantes Antologias e Histórias da Literatura Contemporânea de Portugal, Brasil, Espanha, Inglaterra, Alemanha, Estados Unidos, Dinamarca, Suécia, Holanda, e República Checa. Tisanas é a sua obra mais traduzida.
POESIA: DA FLOR - VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES (BRASIL)
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