Abraços,
Dilercy Adler
DESVELO DE UM MUNDO ESPECIAL
AUTORA: REGIANE TAVARES
À GUISA DE APRESENTAÇÃO
“Eu tenho vários dons, de fazer mensagens bonitas,
e fazer alguns trabalhos que não ficam muito bonitos,
mas eu faço”.
Regiane Tavares
Sinto-me honrada em tecer algumas considerações acerca deste livro para que o leitor, a partir de um conhecimento maior, acerca de algumas condições específicas da nossa sociedade, da nossa humanidade e da nossa autora, possa degustar com mais intensidade as palavras deste livro que são urdidas nem sempre com fios verticais, mas que consegue de forma contundente fazer a trama, o enredo, de todo uma vida, por fim desvelada, de forma leve e perspicaz, que talvez escape do leitor desavisado. Por isso a premente necessidade de iniciar esta apresentação pela gênese da história deste livro.
Estava eu em Guimarães, mais uma vez, depois de ter sido levada pelas mãos imortais de Gonçalves Dias, e adentrando na cidade pela generosidade inicial do atual presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Guimarães, IHGG, o ilustre professor Osvaldo Gomes e posteriormente pela prefeita Nilce Farias e todo o povo vimarense (que, diga-se de passagem, é um povo hospitaleiro e de grande amabilidade).
Na ocasião estávamos comemorando o aniversário de 189 anos de Maria Firmina, lançando o Projeto dos “Cento e noventa poemas para Maria Firmina” que inclui duas publicações: uma de poemas e outra de estudos e pesquisas, em homenagem à essa grande escritora ludovicense, que passou a maior parte da sua vida em Guimarães.
A programação foi realizada em São Luis e Guimarães e como parte da programação de Guimarães estava a criação da Academia Vimarense de Letras – AVL. Muita gente reunida: autoridades, estudantes, professores e comunitários. Muitas falas, sorrisos, alegria! Era uma manhã de domingo ensolarada, como a maioria das manhãs do Maranhão.
Entre o público, uma jovem mulher de aspecto frágil, mas ao mesmo tempo, revelando força, coragem, ousadia. Falava dos seus trabalhos de literatura, assinou o Livro de Ata dos membros fundadores da AVL.
Regiane Tavares chamou a atenção de Vanda Salles, membro correspondente da Academia Ludovicense de Letras-ALL, que lá estava juntamente com o acadêmico José Neres, para proferirem palestras sobre Maria Firmina. E as duas conversaram muito e eu fiquei admirando a beleza do encontro entre pessoas que se acolhem de forma incondicional como deveriam ser todos os encontros entre as pessoas... Todas pessoas!
Conversamos um pouco sobre os trabalhos da Regiane e tanto a Vanda como eu intercedemos para que o seu trabalho fosse publicado.
E este livro significa isso!!!
Essa grande vitória de Regiane Tavares, que a despeito de todas as barreiras consegue hoje realizar o seu sonho, faz parte do meu também, no sentido de que defendo a possibilidade de partilhar com o nosso coletivo os nossos pensamentos, nossos sentimentos e nossos desejos para que conheçamos mais profundamente a alma humana: a minha e a do outro.
Regiane Tavares reforça neste livro de prosa e poesia a ideia de que “Nada acontece por acaso”. Assim entendo que aquela manhã de domingo estava entre os fatos que tinham que acontecer embalados pelo encantamento de Gonçalves Dias e Maria Firmina.
O viés mais forte desta obra é o sentimento. As ideias não são trabalhadas em termos de erudição ou sofisticação literária, mas de uma forma simples, coloquial. E uma a uma vão traduzindo de forma contundente as marcas da dor da rejeição materna; a beleza da união possível entre um homem e uma mulher na contramão da agressão ainda sofrida por muitas mulheres, por seus companheiros; na questão do poder das autoridades e dos deveres e direitos, embora às vezes contraditórios; na necessidade de igualdade real e concreta entre as pessoas, onde o preconceito e o desejo de dominar o outro ficam sem vez de expressão.
Outra característica desta obra que me provoca inusitada comoção é a clara e vigorosa Ousadia e
incontestável Fé. Fé no sentido da certeza, da convicção da realização do fato ou da existência daquilo que não se vê. Foram a Fé, a coragem, a ousadia, sem dúvida, que moveram Davi na defesa do seu povo contra o gigante dos Filisteus. Também depreendo essas qualidades neste trabalho da Regiane. Ela mesma se coloca como uma mulher guerreira que luta pelos seus direitos e o seu grito é ouvido e isso é bom! “[...] o verbo nos muda/ o verbo deixa-nos mudos! (ADLER, 2000). Neste caso o verbo é gritado para ser ouvido e empreender mudanças... Este livro é uma prova disso.
Convém enfatizar que para a produção literária é imprescindível sensibilidade, inspiração e exercício na ação de tecer os fios invisíveis e imprevisíveis das palavras impregnadas de sonhos, desejos, delírios, loucuras, dor, amor e amor, muito amor no fim de tudo... Sempre amor!
Traduzir o mundo de forma crua ou romântica com suavidade ou pesada obsessão transformadas em leveza suprema e insustentável do ser-no-mundo... Isso configura o desafio do poeta.
O poeta não nasce pronto. Nasce com o potencial para sê-lo e o coletivo tem fundamental importância nessa tarefa, considerando que é o coletivo que aprova, aplaude ou refuta tudo que lhe é apresentado.
Quero estar no público que reforça positivamente, não por irresponsabilidade ou benevolência, mas por reconhecer o diamante que está em minhas mãos e quero juntar as minhas mãos às de Regiane para, quem sabe, me inspirando em César Maranhão, juntas cavarmos uma cacimba para aplacarmos na urgência da sede de alguns, essa necessidade... Necessidade de beber amor, beber vida, beber dor, sorver denúncia, ruminar a revolução necessária para um mundo mais humanizado de fato!!!
Regiane Tavares coloca num dado momento de suas reflexões que:
“A minha presença pode causar-lhe alegria ou tristeza.
Você fica feliz quando eu chego ou quando saio?”
Para finalizar deixo a pergunta: Esta leitura causou-lhe prazer? Aguçou a sua sensibilidade? Redirecionou o seu olhar para situações e objetos até então ignorados? Conseguiu identificar os vários tons da mesma cor? Foi capaz de se embevecer com várias notas musicais em diferentes combinações de novas sinfonias?
A sua resposta só você tem. A minha deixo aqui registrada: Essa leitura a mim só fez bem!!!
Dilercy Adler
São Luiz/MA, 11 de janeiro de 2015.
DO CANTO ABSOLUTO DO INUSITADO AMOR- EM OBRAS DE REGIANE
TAVARES: uma escritora e poeta vimarense
Eu venço as lutas da vida com dignidade, por
isso é que eu posso dizer que sou uma guerreira.
[...] Eu peço as pessoas mais
fortes que deem apoio
a este órgão e também as pessoas
especiais.
Porque elas precisam desse apoio.
Regiane Tavares
Esgarço a minha sensibilidade e o
abraço amigo de irmã de alma, agora mais ainda convicta de ler e ouvir nas
linhas e entrelinhas deste contracanto de Regiane Tavares – a especial
escritora e poeta vimarense, conforme suas próprias palavras a mim quando em
Guimarães, ao término de minha apresentação sobre O Primado da Imaginação: um
estudo Arteterapêutico em Maria Firmina dos Reis, em que sugeria ser o diálogo
possível em uma missão de amor. Missão esta, que o projeto firminiano
desvelou-nos e elevou-nos ao entrelaçar-se corpo e alma na singular palavra:
“ESPERANÇAR”, que Dilercyr Adler ensinou-nos a conjugar.
Eis aqui uma missão de amor!
Falar do universo regianiano é
marcar uma diferença. É causar. É colocar em visibilidade a sua Alteridade
radical, no público e no privado, onde de maneira perspicaz mostra como a
Liberdade pode ser Senhora em sua vida e na vida de todos nós.
Sua poética tange e contagia-nos
a delirar e indagar sobre “normalidade”, “memória e consciência”: como ter uma
nova visão? Ver é saber o que fazer? A consciência produz a mente no cérebro
para se explicar e revelar-se? Ensina-nos ela em “A Vida de Uma Especial que
Muita Coisa Passou”: Morei com a minha vó até os oito anos. Depois fui morar
com minha mãe. Aos nove fui morar em Brasília com ela para fazer um tratamento
mais desenvolvido para saber qual era esse problema. oi constatado que eu tinha
uma lesão no cérebro, e que não tem cura.
A neuroestética nos informa,
segundo Ramachandran (2008), “ a percepção do belo obedece a leis universais
que se relacionam com aspectos neurobiológicos do processamento de informações
comuns a todos os homens’.
Vanda Lúcia da Costa Salles
Alcântara/SG/Rio de Janeiro, 11
de janeiro de 2015